Gostaria
de saber qual destas frases está correcta e porquê: a) Se eu fosse rico,
ofereceria-lhe... b) Se eu fosse rico, oferecer-lhe-ia...
Quando utiliza um pronome clítico (ex.: o, lo, me, nos) com um verbo no futuro do indicativo (ex.
oferecer-lhe-ei) ou no
condicional, também chamado futuro do pretérito, (ex.: oferecer-lhe-ia), deverá fazer a mesóclise,
isto é, colocar o pronome clítico entre o radical do verbo (ex.: oferecer)
e a terminação que indica o tempo verbal e a pessoa gramatical (ex.: -ei ou
-ia). Assim
sendo, a frase correcta será Se eu fosse rico, oferecer-lhe-ia...
Esta colocação dos pronomes clíticos é aparentemente estranha em relação aos
outros tempos verbais, mas deriva de uma evolução histórica na língua portuguesa
a partir do latim vulgar. As formas do futuro do indicativo (ex.: oferecerei)
derivam de um tempo verbal composto do infinitivo do verbo principal (ex.: oferecer) seguido de uma forma do presente do verbo haver (ex.:
hei),
o que corresponderia hipoteticamente, no exemplo em análise, a oferecer hei.
Se houvesse necessidade de inserir um pronome, ele seria inserido a seguir ao
verbo principal (ex.: oferecer lhe hei). Com as formas do condicional (ex.
ofereceria), o caso é semelhante, com o verbo principal (ex.: oferecer)
seguido de uma forma do imperfeito do verbo haver (ex.: hia < havia), o
que corresponderia hipoteticamente, no exemplo em análise, a oferecer hia
e, com pronome, a oferecer lhe hia.
É de notar que a reflexão acima não se aplica se houver alguma palavra ou
partícula que provoque a próclise do clítico, isto é, a sua colocação antes do
verbo (ex.: Jamais lhe ofereceria flores. Sei que lhe ofereceria flores).
Sou colaborador de uma empresa, na qual a maioria dos colaboradores são senhoras (mulheres) e uma percentagem muito pequena de homens. Toda a comunicação da empresa é feita no feminino.
Reportei à administração esta situação pois a comunicação é toda no feminino, e o que me foi dito é que está correto, devido ao novo acordo ortográfico. Ou seja como a maioria são mulheres a comunicação é feita no feminino.
Nós homens, recebemos correspondência com Querida Colaboradora e quando se dirigem aos colaboradores da empresa é sempre como Colaboradoras.
A minha questão é se está ou não correto? E em que parte do acordo ortográfico isso está presente?
A situação descrita nada tem a ver com as alterações decorrentes do
Acordo Ortográfico de
1990, pois apenas a ortografia da língua portuguesa é regulamentada por
actos legislativos. O Acordo Ortográfico é um texto legal que regula unicamente
a ortografia do português, sem pretender interferir em outras áreas da língua,
como o léxico ou a sintaxe, por exemplo. Se a empresa em questão optou por se
dirigir no feminino ao seu grupo de colaboradores, composto maioritariamente por senhoras,
com a justificação de que se trata de algo relacionado com o novo
Acordo Ortográfico, tal não está correcto.
Em português, para designar todos os elementos de um grupo de pessoas, mesmo
quando o género maioritário é o feminino, é possível usar o masculino, ainda que
haja só um elemento masculino (ex.: as meninas e o menino estão tão crescidos).
Tal acontece porque o masculino é o género não marcado do português, considerado
neutro quando não se pretende especificar nenhum género. Esta opção vem sendo
progressivamente menos usada, como consequência de preocupações sociais de
igualdade de género, de que a língua é um reflexo. Sendo assim, a alternativa
mais aconselhável seria fazer referência aos dois géneros, como por exemplo
Caro(a) colaborador(a), Caros colaboradores e colaboradoras ou ainda
Caras colaboradoras e caros colaboradores.