As palavras sobre as quais que tenho dúvidas são rentabilidade e rendibilidade. Eu penso que rentabilidade não existe, pois esta palavra refere-se a rendimento e não a rentimento. Ou seja, não se deveria dizer rentabilidade, mas sim rendibilidade. Sei que no vosso site, também tem a designação para a palavra rentabilidade e associam-na a rendibilidade, no entanto gostava de vos perguntar se realmente esta palavra existe, e, se existe, se sempre existiu, ou se só existe desde o novo acordo da língua portuguesa.
As palavras a que se refere estão atestadas em diversos dicionários de língua portuguesa, ainda que os puristas pelejem pela exclusão de rentabilidade em favor de rendibilidade. No entanto, parece ser indiscutível a primazia das formas rentável / rentabilidade (aquelas que alguns consideram galicismos) sobre rendível / rendibilidade (as consideradas correctas), como se pode comprovar, por exemplo, em buscas feitas em páginas da Internet escritas em Português. Certa para uns, errada para outros, a palavra rentabilidade aparece registada já em dicionários do final do século passado (cf. Antônio Geraldo da Cunha, Dicionário Etimológico Nova Fronteira da Língua Portuguesa, Rio de Janeiro, 1982 [1.ª e 2.ª impressões] - Id., 2.ª ed., 1986).
Na frase: Nós convidámo-vos, o pronome é enclítico, o que obriga à omissão do -s final na desinência -mos ao contrário do que o V. corrector on-line propõe: Nós convidamos-vos, o que, certamente, é erro. Nós convidamos-vos, Nós convidámos-vos, Nós convidamo-vos, Nós convidámo-vos: afinal o que é que está correcto?
A forma nós convidámos-vos encontra-se correcta, tal como é verificado pelo FLiP on-line.
A forma *nós convidámo-vos corresponde a um erro muito
frequente dos utilizadores da língua, por analogia com o uso enclítico do
pronome nos (como em nós convidámo-nos); apesar de aparentemente
semelhantes, estes dois casos correspondem a contextos diferentes que
determinaram a grafia actual. Em casos como nós convidámo-nos, estamos
perante a terminação da primeira pessoa do plural -mos, seguida do
clítico nos; estas duas terminações são quase homófonas, pelo que a
língua encontrou uma forma de as dissimilar ou diferenciar, num fenómeno
designado “dissimilação das sílabas parafónicas” por Martins de Aguiar, citado
por CUNHA e CINTRA na Nova Gramática do Português Contemporâneo (Ed. João
Sá da Costa, 1998, p. 318). No caso de nós convidámos-vos não há
necessidade de dissimilação, pelo que a grafia deverá incluir o -s final
da desinência da primeira pessoa do plural.
Relativamente ao uso dos clíticos e às alterações ortográficas que estes
implicam quando se seguem à forma verbal (ênclise), pode dizer-se que não há
qualquer alteração ortográfica com os pronomes pessoais átonos que são complemento
indirecto (me, te, lhe, vos, lhes), excepto com o pronome nos, que
provoca a já referida redução da forma verbal da desinência da primeira pessoa
do plural (de *-mos-nos para -mo-nos). A este respeito, veja-se o
anexo relativo aos verbos no Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa
(Círculo de Leitores, 2002) ou 12 000 verbes portugais et brésiliens - Formes
et emplois (“Collection Bescherelle”, Paris, Hatier, 1993), duas das poucas
obras de referência que explicitamente referem este fenómeno.
Em relação aos clíticos de complemento directo (o, a, os as), quando há
ênclise apresentam alteração para -lo, la, -los, -las se se seguirem a
forma verbal terminada em -r, -s ou -z ou ao advérbio
eis, sendo que há redução da forma verbal (ex.: convidá-lo,
convidamo-las, di-lo, ei-la), por vezes com necessidade de acentuação
gráfica (ver também outra dúvida sobre este assunto em
escreve-lo e escrevê-lo). Se a forma verbal terminar em nasal (ex.: convidam, convidaram), o pronome
enclítico altera-se para -no, -na, -nos, -nas (ex.: convidam-no,
convidaram-nas).
As construções *nós convidamo-vos e *nós convidámo-vos estão então
incorrectas, pois não há motivo para retirar o -s à terminação da
primeira pessoa do plural quando seguida do clítico vos. No português europeu, as construções
nós convidamos-vos e nós convidámos-vos estão ambas correctas,
distinguindo-se apenas pelo tempo verbal. A primeira corresponde ao presente do
indicativo (ex.: Hoje convidamos-vos para uma visita às grutas) e a
segunda ao pretérito perfeito do indicativo (ex.: Ontem convidámos-vos para um
passeio de barco).