Gostaria
de saber qual destas frases está correcta e porquê: a) Se eu fosse rico,
ofereceria-lhe... b) Se eu fosse rico, oferecer-lhe-ia...
Quando utiliza um pronome clítico (ex.: o, lo, me, nos) com um verbo no futuro do indicativo (ex.
oferecer-lhe-ei) ou no
condicional, também chamado futuro do pretérito, (ex.: oferecer-lhe-ia), deverá fazer a mesóclise,
isto é, colocar o pronome clítico entre o radical do verbo (ex.: oferecer)
e a terminação que indica o tempo verbal e a pessoa gramatical (ex.: -ei ou
-ia). Assim
sendo, a frase correcta será Se eu fosse rico, oferecer-lhe-ia...
Esta colocação dos pronomes clíticos é aparentemente estranha em relação aos
outros tempos verbais, mas deriva de uma evolução histórica na língua portuguesa
a partir do latim vulgar. As formas do futuro do indicativo (ex.: oferecerei)
derivam de um tempo verbal composto do infinitivo do verbo principal (ex.: oferecer) seguido de uma forma do presente do verbo haver (ex.:
hei),
o que corresponderia hipoteticamente, no exemplo em análise, a oferecer hei.
Se houvesse necessidade de inserir um pronome, ele seria inserido a seguir ao
verbo principal (ex.: oferecer lhe hei). Com as formas do condicional (ex.
ofereceria), o caso é semelhante, com o verbo principal (ex.: oferecer)
seguido de uma forma do imperfeito do verbo haver (ex.: hia < havia), o
que corresponderia hipoteticamente, no exemplo em análise, a oferecer hia
e, com pronome, a oferecer lhe hia.
É de notar que a reflexão acima não se aplica se houver alguma palavra ou
partícula que provoque a próclise do clítico, isto é, a sua colocação antes do
verbo (ex.: Jamais lhe ofereceria flores. Sei que lhe ofereceria flores).
É correcta a frase As PME's enfrentam dificuldades?
Existe plural de PALOP e de TIC?
A flexão das siglas
e dos acrónimos coloca frequentemente dúvidas aos utilizadores da língua, assim
como a flexão das abreviaturas e dos símbolos. Neste contexto, é útil esclarecer
cada um destes termos, para poder obter uma resposta coerente às dúvidas sobre
flexão em número.
Uma sigla é um conjunto formado pelas letras iniciais de várias palavras
(ex.: PME = Pequena e Média Empresa), usado
como uma única palavra pela soletração das letras que o compõem (ex.: P = [pe], M
= [Èmi], E = [È]); como tal, pode
também corresponder ao plural de uma ou mais dessas palavras, sem que as
iniciais se alterem (ex.: EUA, por exemplo, é uma sigla que corresponde a
um plural, Estados Unidos da América,
sem que seja necessário uma marca dessa flexão). Por este motivo, não haverá
razão lógica para acrescentar um esse (-s) às siglas referidas: deverá
escrever-se os CD (os Compact Discs) ou as PME
(as Pequenas e Médias Empresas).
Um acrónimo é um conjunto formado pelas letras iniciais de várias
palavras (ex.: EPAL), usado como uma única palavra e pronunciado não pela
soletração de cada uma das letras, como as siglas, mas de forma contínua, como
um nome comum (ex.: EPAL lê-se [È'pal] e não [Èpea'Èli]).
Assim, pelo mesmo motivo apontado para as siglas, deverá escrever-se os PALOP
(os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa)
ou as TIC (as Tecnologias de Informação e Comunicação).
Ainda em relação aos acrónimos, deve dizer-se que estes se transformam por vezes
em nomes comuns (ex.: sida < Síndrome de Imunodeficiência
Adquirida, cedê < CD < Compact Disc), obedecendo às
regras gerais de ortografia e assumindo então as regras gerais de flexão (ex.:
A sida em África é diferente das outras sidas?; Comprou vários cedês.).
Uma abreviatura corresponde a uma letra ou a um conjunto de letras que
faz parte de uma palavra e a representa na escrita (ex.: Dr. < Doutor),
mas que não tem em geral um correspondente fonético (a abreviatura Dr.
ler-se-á doutor e não como [dri] ou com soletração das letras
[de'ÈRi]), sendo que muitas
vezes estas abreviaturas admitem as marcas de flexão, entendendo-se que
constituem abreviaturas de palavras diferentes (ex.: Dr.ª, Dr.as).
Um símbolo
corresponde a uma letra ou a um conjunto de letras que estabelece, geralmente
por convenção, uma relação de correspondência com uma unidade de medida (km
= quilómetro(s); V = volt(s); Y = ítrio) ou um conceito (cos =
cosseno, SO = sudoeste), não havendo geralmente um correspondente
fonético (ex.: V ler-se-á volt), nem marcação de flexão (ex.:
corrente de 220V ler-se-á volts), pois trata-se muitas vezes de
símbolos estabelecidos internacionalmente ou com um valor bastante difundido,
nomeadamente em áreas científicas, e têm de ser únicos e unívocos.
No caso das siglas,
acrónimos e abreviaturas, é muito usual o uso das marcas de flexão em alguns
casos, nomeadamente com adjunção de -s no final (ex.: PMEs). Tal
uso, não sendo proscrito pelas regras de ortografia portuguesa (o acordo
ortográfico em vigor é omisso nesse aspecto), carece de motivo lógico, como
acima foi defendido e obrigaria, por exemplo, no caso de se considerar que se
trata de uma aplicação das regras gerais de flexão, a adaptações ortográficas no
caso de siglas ou acrónimos terminados em consoantes (ex.: PALOPes).
O apóstrofo ou a plica antecedendo o -s (ex.: *PME’s) não deverá ser
usado, pois não é um mecanismo de flexão da língua portuguesa.