Trabalho com luteria ou luteraria? Encontrei os dois no Aurélio em edições diferentes, mas qual eu uso?
Será lutheria? Mas isto é português, italiano ou francês?
Outra dúvida: escrevo arte lutérica ou luterárica?
É muito comum utilizar-se o galicismo lutherie para designar a
profissão de luthier.
No entanto, e como já estão atestadas alternativas aportuguesadas daquele
estrangeirismo, é sempre preferível optar pelas formas que seguem as normas da
ortografia portuguesa. Uma vez que luteria é a forma que mais se aproxima
do seu étimo (lutherie), deve ter uso preferencial, i.e., deverá optar
por usar luteria em vez de luteraria.
Ambos os adjectivos (lutérico e luterárico) são possíveis, apesar
de nenhum deles ter registo em dicionários e léxicos da língua portuguesa. No
entanto, e uma vez que lutérico é a forma que deriva de luteria,
essa deverá ser a preferencial.
Pretendo saber como se lê a palavra ridículo. Há
quem diga que se lê da forma que se escreve e há quem diga que se lê redículo.
Assim como as palavras ministro e vizinho, onde também tenho a mesma dúvida.
A dissimilação, fenómeno fonético que torna diferentes dois ou mais segmentos fonéticos iguais
ou semelhantes, é muito frequente em português europeu.
O caso da pronúncia do
primeiro i não como o habitual [i] mas como [i] (idêntico à
pronúncia de se ou de) na palavra ridículo
é apenas um exemplo de dissimilação entre dois sons [i].
O mesmo fenómeno pode
acontecer nos casos de civil, esquisito, feminino,
Filipe, imbecilidade, medicina, militar,
milímetro, ministro, príncipe, sacrifício,
santificado, Virgílio, visita, vizinho
(o segmento destacado é o que pode sofrer dissimilação), onde se pode verificar
que a modificação nunca ocorre na vogal da sílaba tónica ou com acento
secundário, mas nas vogais de sílabas átonas que sofrem enfraquecimento.
A este respeito, convém referir que alguns dicionários de língua portuguesa,
como o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia das
Ciências de Lisboa (Verbo, 2001) ou o Grande Dicionário Língua Portuguesa
(Porto Editora, 2004), apresentam transcrição fonética das palavras. Podemos
verificar que nestas obras de referência, a transcrição não é uniforme. No
dicionário da Academia das Ciências, estas palavras são transcritas de forma
quase sistemática sem dissimilação, mas a palavra príncipe é transcrita
como prínc[i]pe. No dicionário da Porto editora, algumas
destas palavras são transcritas com e sem dissimilação, por esta ordem, como em
feminino, medicina, militar, ministro ou vizinho, mas a palavra
esquisito é transcrita com a forma sem dissimilação em primeiro lugar,
enquanto as palavras civil, príncipe, sacrifício e visita
são transcritas apenas sem dissimilação.
Em
conclusão, nestes contextos, é possível encontrar no português europeu as duas
pronúncias, com e sem dissimilação, sendo que em alguns casos parece mais rara e
noutros não. A pronúncia destas e de outras palavras não obedece a critérios de
correcção, pois não se trata de uma pronúncia correcta ou incorrecta, mas de
variações de pronúncia relacionadas com o dialecto ou o sociolecto do falante.
Assim, nos exemplos acima apresentados é igualmente correcta a pronúncia dos
segmentos assinalados como [i] ou [i].