Trabalho como docente na Academia de Polícia Militar e utilizamos muito a expressão 'Companhia Tático Móvel'. Tenho duas dúvidas:
1. quanto ao hífen: deve-se obrigatoriamente utilizar o hífen no composto Tático-Móvel, ou também é correta a forma Tático Móvel, sem hífen?
2. como é a forma plural do composto? Companhias Tático Móveis ou Companhias Tático Móvel?
No caso da expressão que refere, se considerarmos que estamos perante um elemento de composição derivado de um adjectivo (táctico no português europeu antes da aplicação do Acordo Ortográfico de 1990 ou tático no português do Brasil e no português europeu após a aplicação do Acordo Ortográfico de 1990), seguido de adjectivo (móvel), com o significado de “relativo à táctica e simultaneamente com mobilidade”, a grafia correcta deverá ser com hífen, táctico-móvel.
A palavra táctico-móvel pode ainda não estar dicionarizada, mas exibe um comportamento semelhante ao de casos como
económico-financeiro,
médico-cirúrgico,
político-económico ou
teórico-prático, cujo primeiro elemento deriva igualmente de um adjectivo, mantendo no entanto um acento distinto deste.
Na sua Moderna Gramática Portuguesa (Rio de Janeiro: Editora Lucerna, 2002, p. 100), o gramático brasileiro Evanildo Bechara também advoga o uso de hífen “nos vocábulos formados pelos prefixos que representam formas adjetivas” exemplificando com a forma
histórico-geográfico, entre outras.
Quanto à flexão destes compostos, uma vez que são formados por um elemento de composição seguido de um adjectivo, só o segundo elemento flexiona (ex.: situação económico-financeira, consultórios médico-cirúrgicos, sistemas político-económicos, relação histórico-geográfica, aulas teórico-práticas). Assim, o plural de companhia táctico-móvel deverá ser companhias tático-móveis.
A não utilização do hífen pressupõe que estamos perante uma sequência de dois adjectivos e, nesse caso, teremos de fazer a concordância em género e número, escrevendo companhia táctica móvel, no singular, ou companhias tácticas móveis, no plural.
É correcta a frase As PME's enfrentam dificuldades?
Existe plural de PALOP e de TIC?
A flexão das siglas
e dos acrónimos coloca frequentemente dúvidas aos utilizadores da língua, assim
como a flexão das abreviaturas e dos símbolos. Neste contexto, é útil esclarecer
cada um destes termos, para poder obter uma resposta coerente às dúvidas sobre
flexão em número.
Uma sigla é um conjunto formado pelas letras iniciais de várias palavras
(ex.: PME = Pequena e Média Empresa), usado
como uma única palavra pela soletração das letras que o compõem (ex.: P = [pe], M
= [Èmi], E = [È]); como tal, pode
também corresponder ao plural de uma ou mais dessas palavras, sem que as
iniciais se alterem (ex.: EUA, por exemplo, é uma sigla que corresponde a
um plural, Estados Unidos da América,
sem que seja necessário uma marca dessa flexão). Por este motivo, não haverá
razão lógica para acrescentar um esse (-s) às siglas referidas: deverá
escrever-se os CD (os Compact Discs) ou as PME
(as Pequenas e Médias Empresas).
Um acrónimo é um conjunto formado pelas letras iniciais de várias
palavras (ex.: EPAL), usado como uma única palavra e pronunciado não pela
soletração de cada uma das letras, como as siglas, mas de forma contínua, como
um nome comum (ex.: EPAL lê-se [È'pal] e não [Èpea'Èli]).
Assim, pelo mesmo motivo apontado para as siglas, deverá escrever-se os PALOP
(os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa)
ou as TIC (as Tecnologias de Informação e Comunicação).
Ainda em relação aos acrónimos, deve dizer-se que estes se transformam por vezes
em nomes comuns (ex.: sida < Síndrome de Imunodeficiência
Adquirida, cedê < CD < Compact Disc), obedecendo às
regras gerais de ortografia e assumindo então as regras gerais de flexão (ex.:
A sida em África é diferente das outras sidas?; Comprou vários cedês.).
Uma abreviatura corresponde a uma letra ou a um conjunto de letras que
faz parte de uma palavra e a representa na escrita (ex.: Dr. < Doutor),
mas que não tem em geral um correspondente fonético (a abreviatura Dr.
ler-se-á doutor e não como [dri] ou com soletração das letras
[de'ÈRi]), sendo que muitas
vezes estas abreviaturas admitem as marcas de flexão, entendendo-se que
constituem abreviaturas de palavras diferentes (ex.: Dr.ª, Dr.as).
Um símbolo
corresponde a uma letra ou a um conjunto de letras que estabelece, geralmente
por convenção, uma relação de correspondência com uma unidade de medida (km
= quilómetro(s); V = volt(s); Y = ítrio) ou um conceito (cos =
cosseno, SO = sudoeste), não havendo geralmente um correspondente
fonético (ex.: V ler-se-á volt), nem marcação de flexão (ex.:
corrente de 220V ler-se-á volts), pois trata-se muitas vezes de
símbolos estabelecidos internacionalmente ou com um valor bastante difundido,
nomeadamente em áreas científicas, e têm de ser únicos e unívocos.
No caso das siglas,
acrónimos e abreviaturas, é muito usual o uso das marcas de flexão em alguns
casos, nomeadamente com adjunção de -s no final (ex.: PMEs). Tal
uso, não sendo proscrito pelas regras de ortografia portuguesa (o acordo
ortográfico em vigor é omisso nesse aspecto), carece de motivo lógico, como
acima foi defendido e obrigaria, por exemplo, no caso de se considerar que se
trata de uma aplicação das regras gerais de flexão, a adaptações ortográficas no
caso de siglas ou acrónimos terminados em consoantes (ex.: PALOPes).
O apóstrofo ou a plica antecedendo o -s (ex.: *PME’s) não deverá ser
usado, pois não é um mecanismo de flexão da língua portuguesa.