A locução adverbial
de frente, que poderá encontrar no verbete
frente do Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, significa "de
face", "com a parte dianteira à mostra" (ex.: vira-te de frente para eu te ver
melhor) ou "sem medo" (ex.: olhou os problemas de frente e tentou
resolvê-los). A palavra
fronte, pelo contrário, não forma nenhuma locução de fronte. Por
tradição lexicográfica, é usado o advérbio
defronte (ex.: ele mora neste prédio e o irmão vive defronte), que
significa "em posição frontal" ou "na parte dianteira de algo" e é sinónimo da
locução em frente (ex.: ele mora neste prédio e o irmão vive em frente).
Paralelamente, o advérbio defronte pode ainda formar locuções
preposicionais como defronte a ou defronte de (ex.: o hotel está
defronte ao mar; os estudantes manifestar-se-ão defronte do ministério),
que são sinónimas das locuções à frente de, em frente a e em
frente de (ex.: o hotel está em frente ao/do mar; os estudantes
manifestar-se-ão à frente do ministério).
Gostaria de esclarecimento quanto ao uso do se não e senão.
Para a distinção entre a palavra senão e a locução se não, é necessário analisar os contextos em que as mesmas ocorrem.
A palavra
senão pode ter vários usos, consoante a classe gramatical a que pertence. Como preposição, é usada antes de grupos nominais ou frases infinitivas para indicar uma excepção ou uma restrição, geralmente em frases
negativas (ex.: não comeu nada senão chocolates;não fazia senão resmungar; não teve alternativa senão refazer o trabalho) ou interrogativas (ex.: que
alternativa tenho senão refazer tudo? fazes outra coisa
senão dormir?). Como conjunção, a palavra é usada para
introduzir uma frase subordinada que indica uma consequência se houver negação
do que é dito na oração principal (ex.: estuda, senão terás
negativa no teste = não estudas, então tens negativa
no teste). Pode ainda ser substantivo, indicando uma “qualidade
negativa” (ex.: a casa tem apenas um senão: é muito fria no
Inverno).
Os contextos acima (especialmente aquele em que senão é conjunção) são
frequentemente confundidos com o uso da palavra
seseguida do advérbio
não. De entre os valores de se (enunciados na resposta
se: conjunção ou pronome), os que mais frequentemente aparecem
combinados com o advérbio não são os de conjunção condicional (ex.
poderá incorrer em contra-ordenação, se não respeitar o código
da estrada; agiu como se não tivesse acontecido nada) e
de conjunção integrante (ex.: perguntou se não havia
outra solução; verificou se não se esquecera de nada).
A confusão que alguns falantes fazem entre estas construções advém
adicionalmente do facto de o uso como conjunção senão poder ocorrer
algumas vezes no mesmo contexto do uso da conjunção condicional se. Por
exemplo, na frase estuda, senão terás negativa no teste é possível
admitir o uso da conjunção se seguida do advérbio não, partindo da
hipótese de que se pode tratar de uma oração condicional em que o verbo está
omitido (estuda, se não [estudares] terás negativa no teste). O
uso da locução se não nos contextos de senão como preposição e
como substantivo é incorrecta (ex.: *não comeu nada se não chocolates;
*a casa tem apenas um se não) e vice-versa (ex.: *agiu como senão tivesse
acontecido nada; *verificou senão se esquecera de nada).
Há outros contextos mais raros em que há ocorrência de se seguido de
não, como na inversão da ordem normal do advérbio e do pronome clítico se
(ex.: é bom que se não experimente uma tragédia
semelhante = que não se experimente).