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Dúvidas linguísticas
nós e a gente
Gostaria de saber se é correcto dizer
a gente
em vez de
nós
.
A expressão
a gente
é uma locução pronominal equivalente, do ponto de vista semântico, ao pronome pessoal
nós
. Não é uma expressão incorrecta, apenas corresponde a um registo de língua mais informal. Por outro lado, apesar de ser equivalente a
nós
quanto ao sentido, implica uma diferença gramatical, pois a locução
a gente
corresponde gramaticalmente ao pronome pessoal
ela
, logo
à terceira pessoa do singular (ex.:
a gente
trabalha
muito; a gente
ficou convencida
) e não à primeira pessoa do plural, como o pronome
nós
(ex.:
nós
trabalhamos
muito; nós
ficámos convencidos
).
Esta equivalência semântica, mas não gramatical, em relação ao pronome
nós
origina frequentemente produções dos falantes em que há erro de concordância (ex.: *
a gente
trabalhamos
muito;
*
a gente
ficámos convencidos
; o asterisco indica agramaticalidade) e são claramente incorrectas.
A par da locução
a gente
, existem outras, também pertencentes a um registo de língua informal, como
a malta
ou
o pessoal
, cuja utilização é análoga, apesar de terem menor curso.
escoteiro ou escuteiro? escotista ou escutista?
Tenho assistido a várias discussões sobre as palavras escoteiro/escuteiro e sobre escotismo/escutismo e gostaria de uma explicação linguística. São sinónimos ou são coisas diferentes?
Relativamente ao uso geral da língua, as palavras
escoteiro
/
escuteiro
e
escotismo
/
escutismo
correspondem a dois pares de sinónimos, a que se podem juntar outros pares como
escotista
/
escutista
ou
escoteirismo
/
escuteirismo
. Qualquer delas está correcta ortograficamente e pode dizer-se que são pares de variantes gráficas homófonas.
A discussão que se gera à volta delas decorre essencialmente do registo lexicográfico destas palavras (ou da ausência dele) ou de visões ligeiramente diferentes do chamado movimento escutista (ou escotista).
Para compreendermos melhor os argumentos utilizados, é necessário fazer alguma pesquisa, não tanto linguística, mas acerca da história do próprio movimento escutista em Portugal, que permita perceber o motivo da existência destas variantes (no Brasil, o problema não se coloca, pois as variantes com
-u-
são consideradas lusismos). Para isso, é esclarecedora a breve nota a que podemos aceder no sítio da
Associação de Escoteiros de Portugal
, que nos apresenta brevemente a história do movimento, salientando que esta foi a primeira associação de Portugal que utilizou a palavra
escoteiro
, já existente na língua e com o significado de "pessoa que viaja sem bagagem", para traduzir o inglês
scout
. Só mais tarde apareceu o Corpo Nacional de Escutas, movimento católico que assumiu uma dimensão maior e que, para a tradução de
scout
, utilizou a palavra
escuta
(de que depois derivaram
escuteiro
e
escutista
), já existente na língua como derivado regressivo do verbo
escutar
.
Sem ter a pretensão de fazer um levantamento exaustivo na lexicografia portuguesa, podemos verificar no
Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa
de José Pedro Machado que a palavra
escoteiro
está documentada na língua desde o séc. XVI em
Lendas da Índia
por Gaspar Correia, publicadas pela Ordem da Classe de Ciências Morais, Políticas e Belas Letras da Academia Real das Ciências de Lisboa, sob a direcção de Rodrigo José de Lima Felner, 1858: "
…tudo puderam bem carregar, ficando os homens escoteiros e despejados para andar o caminho
". O registo da acepção que diz respeito aos membros de movimentos semelhantes àquele que foi criado por Baden-Powell é bem mais recente.
Rebelo Gonçalves, no seu
Vocabulário da Língua Portuguesa
(Coimbra: Coimbra Editora, 1966), referência importante para a lexicografia portuguesa, considera
escoteiro, escotismo
e
escotista
como variantes brasileiras de
escuteiro, escutismo
e
escutista
, respectivamente. Nesta opção, segue o que está no
Vocabulário Ortográfico Resumido da Língua Portuguesa
, da Academia das Ciências de Lisboa (Lisboa: Imprensa Nacional de Lisboa, 1947).
Também o dicionário de Cândido de Figueiredo regista
escoteiro
como brasileirismo, na acepção que aqui nos interessa e as formas
escuta
e
escuteiro
como as preferenciais em Portugal. De notar que estamos a falar da edição coordenada por Rui Guedes (25.ª ed., 1996), pois em edições antigas, nomeadamente na edição de 1913, por exemplo, apenas consta a entrada
escoteiro
, com a acepção "aquele que viaja sem bagagem".
José Pedro Machado, nas várias edições do
Grande Dicionário da Língua Portuguesa
(por exemplo, Lisboa: Amigos do Livro, 1981 e Lisboa: Círculo de Leitores, 1991), outra grande referência na lexicografia portuguesa, regista também
escuteiro
(assinalando neste verbete, que "No Brasil, usa-se a forma
escoteiro
"),
escutismo
e
escutista
(nestes dois últimos verbetes, confrontando com as formas em
-o-
para avisar o consulente de que se trata de verbetes diferentes, não sinónimos). Curiosamente, não regista
escuteirismo
, mas sim
escoteirismo
, definindo-o de maneira bastante abrangente, de modo a incluir o movimento idealizado por Baden-Powell e qualquer movimento organizado em moldes semelhantes. Por outro lado, se no verbete
escuteiro
este dicionário assinala a forma
escoteiro
como brasileira, no verbete
escoteiro
, com o sentido sobre os qual nos debruçamos, não tem qualquer indicação de que se trata de brasileirismo, estando o verbete
escoteiro
definido, com etimologia e sem qualquer registo geográfico (o mesmo acontece com
escotismo
, que remete para
escoteirismo
).
O
Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia das Ciências de Lisboa
(Lisboa: Verbo, 2001), por sua vez, parece ser o primeiro a registar os vários pares de variantes gráficas, sem distinguir registos de língua pertinentes. Neste sentido apresenta a definição nas formas com
-u-
, por serem mais usuais, e uma remissão nas formas com
-o-
.
Por motivos diversos, quer etimológicos, quer históricos, estes pares de palavras surgiram na língua, à semelhança de muitos outros casos de variação, e podem ser considerados sinónimos, sem que haja motivo para considerar uma ou outra forma mais correcta do que outra. Adicionalmente, e sobretudo entre os membros ou simpatizantes do movimento escotista/escutista em Portugal, a distinção
escoteiro
ou
escuteiro
permite também distinguir, respectivamente, entre os membros da Associação de Escoteiros de Portugal (de cariz interconfessional) e os membros, bem mais numerosos, do Corpo Nacional de Escutas (de cariz católico e estruturado numa relação directa com as dioceses).
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Palavra do dia
voga-avante
voga-avante
(
vo·ga·-a·van·te
vo·ga·-a·van·te
)
Náutica
Náutica
Indivíduo que rema.
nome masculino de dois números
[
Náutica
]
[
Náutica
]
Indivíduo que rema.
=
REMADOR, REMEIRO
Origem etimológica:
forma do verbo
vogar + avante
.