Negocia ou negoceia? Em português de Portugal, a 3ª pessoa do
singular do Presente do Indicativo é negocia ou negoceia? Aprendi
na escola (portuguesa) e sempre disse negoceia e qual o meu espanto que
aqui, na Priberam, aparece o vocábulo negocia na conjugação do verbo.
Como no corrector de português de Portugal a expressão Ele negocia não
apresenta erro, deduzo que as duas formas estarão correctas. Se por aqui, no
Brasil, o termo usado é negocia, pergunto qual o termo que um português
deve aplicar.
No português de Portugal é aceite a dupla conjugação do verbo negociar
nas formas do presente do indicativo (negocio/negoceio,
negocias/negoceias, negocia/negoceia, negociam/negoceiam),
do presente do conjuntivo (negocie/negoceie, negocies/negoceies,
negocie/negoceie, negociem/negoceiem) e do
imperativo (negocia/negoceia, negocie/negoceie,
negociem/negoceiem), ao contrário do português do Brasil, que apenas
permite a conjugação com a vogal temática -i- e não com o ditongo -ei-
(negocio, negocias, etc.).
A mesma diferença de conjugação entre as duas normas do português (europeia e
brasileira) apresentam os verbos derivados de negociar (desnegociar,
renegociar), bem como os verbos agenciar, cadenciar,
comerciar, diligenciar, licenciar, obsequiar e
premiar.
Podem informar-me se o verbo queixar-se pode ser utilizado sem o pronome reflexivo e em que situação isso ocorre.
O verbo
queixar-se é um verbo pronominal; no entanto, o pronome se não é um
pronome reflexo, mas o que é designado por “se inerente”. Esta construção
é diferente da construção reflexa lavar-se, em que o sujeito é ao mesmo
tempo agente e paciente da sua acção (eu lavo-me = eu sou lavado por mim),
ou da construção reflexa recíproca beijar-se, em que um sujeito complexo
ou colectivo é ao mesmo tempo agente e paciente da mesma acção (o casal
beija-se = cada um dos elementos do casal beija e é beijado); em ambas estas
construções, o pronome reflexo desempenha uma função de complemento directo. Na
construção queixar-se, porém, não há uma acção do sujeito sobre si
próprio (eu queixo-me = *eu sou queixado por mim; o asterisco indica
agramaticalidade), e o pronome pessoal não tem valor reflexo, nem reflexo
recíproco, nem impessoal, nem apassivante, mas parece fazer parte do verbo e das
suas propriedades lexicais. No caso de queixar-se, nenhuma das acepções
do verbo permite outra forma que não a pronominal (ex.: *ele queixou à irmã;
*o doente queixava de dores de cabeça). Há ainda o caso de outros verbos que
admitem quer uma construção não pronominal (ex.: esqueci o livro em casa)
quer uma construção pronominal com um se inerente (ex.: esqueci-me do
livro em casa).