Gostaria de saber se escrever ou dizer o termo deve de ser é correcto?
Eu penso que não é correcto, uma vez que neste caso deverá dizer-se ou escrever
deverá ser... Vejo muitas pessoas a usarem este tipo de linguagem no seu
dia-a-dia e penso que isto seja uma espécie de calão, mas já com grande
influência no vocabulário dos portugueses em geral.
Na questão que nos coloca, o verbo dever comporta-se como um verbo
modal, pois serve para exprimir necessidade ou obrigação, e como verbo
semiauxiliar, pois corresponde apenas a alguns dos critérios de auxiliaridade
geralmente atribuídos a verbos auxiliares puros como o ser ou o estar
(sobre estes critérios, poderá consultar a Gramática da Língua Portuguesa,
de Maria Helena Mira Mateus, Ana Maria Brito, Inês Duarte e Isabel Hub Faria,
pp. 303-305). Neste contexto, o verbo dever pode ser utilizado com ou sem
preposição antes do verbo principal (ex.: ele deve ser rico = ele deve
de ser rico). Há ainda autores (como Francisco Fernandes, no Dicionário
de Verbos e Regimes, p. 240, ou Evanildo Bechara, na sua Moderna
Gramática Portuguesa, p. 232) que consideram existir uma ligeira diferença
semântica entre as construções com e sem a preposição, exprimindo as primeiras
uma maior precisão (ex.: deve haver muita gente na praia) e as segundas
apenas uma probabilidade (ex.: deve de haver muita gente na praia). O uso
actual não leva em conta esta distinção, dando preferência à estrutura que
prescinde da preposição (dever + infinitivo).
Avó, bisavó e trisavó (para só referir o feminino)
constam dos dicionários e empregam-se com frequência. Mas eu já tive de referir
antepassados mais recuados e utilizei, respectivamente, tetravó,
pentavó, hexavó, heptavó, octavó, nonavó,
decavó, undecavó e dodecavó. Estará correcto? E se quisesse
continuar, como deveria chamar à 13ª, 14ª e 15ª avó?
Com efeito, na denominação de antepassados directos, nomeadamente dos
avós,
os dicionários de língua portuguesa consultados não vão além de
bisavô,
trisavô e
tetravô/tataravô.
Todavia, com o desenvolvimento dos estudos em genealogia surgiu a necessidade de
nomear parentes mais afastados, o que pode levar a uma formação erudita análoga,
por exemplo, à dos sólidos geométricos, cuja designação é obtida a partir de
prefixos gregos ou latinos que designam os numerais cardinais (ex.:
pentaedro,
hexaedro,
heptaedro, etc.). Assim, para além de avó, bisavó (2ª),
trisavó (3ª), tetravó/tataravó (4ª), seria possível obter
pentavó (5ª), hexavó (6ª), heptavó (7ª), octavó (8ª),
nonavó [ou eneavó] (9ª), decavó (10ª), hendecavó [ou
undecavó] (11ª), dodecavó (12), tridecavó (13ª),
tetradecavó (14ª), pentadecavó (15ª), hexadecavó (16ª),
heptadecavó (17ª), octadecavó (18ª), eneadecavó [ou
nonadecavó] (19ª), icosavó (20ª). Hipoteticamente, seria possível
formar designações ainda mais recuadas como triacontavó (30ª),
pentacontavó (50ª) ou heptacontavó (70ª).