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Dúvidas linguísticas
perturba-o ou perturba-lhe
Tenho uma dúvida na utilização dos pronomes "lhe" ou "o". Por exemplo, nesta frase, qual é a forma correta: "para Carlos não lhe perturbava a existência, ou mesmo a necessidade dos movimentos da vanguarda" ou " para Carlos não o perturbava a existência, ou mesmo a necessidade dos movimentos da vanguarda"?
A questão que nos coloca toca uma área problemática no uso da língua, pois trata-se de informação lexical, isto é, de uma estrutura que diz respeito a cada palavra ou constituinte frásico e à sua relação com as outras palavras ou outros constituintes frásicos, e para a qual não há regras fixas. Na maioria dos casos, os utilizadores conhecem as palavras e empregam as estruturas correctas, e normalmente esse conhecimento é tanto maior quanto maior for a experiência de leitura do utilizador da língua.
No caso dos pronomes clíticos de objecto directo (
o, os, a, as
, na terceira pessoa) ou de objecto indirecto (
lhe, lhes
, na terceira pessoa), a sua utilização depende da regência do verbo com que se utilizam, isto é, se o verbo selecciona um objecto directo (ex.:
comeu a sopa = comeu-a
) ou um objecto indirecto (ex.:
respondeu ao professor = respondeu-lhe
); há ainda verbos que seleccionam ambos os objectos, pelo que nesses casos poderá dar-se a contracção dos pronomes clíticos (ex.:
deu a bola à criança = deu-lhe a bola = deu-lha
).
O verbo
perturbar
, quando usado como transitivo, apenas selecciona objectos directos não introduzidos por preposição (ex.:
a discussão perturbou a mulher; a existência perturbava Carlos
), pelo que deverá apenas ser usado com pronomes clíticos de objecto directo (ex.:
a discussão perturbou-a; a existência perturbava-o
) e não com pronomes clíticos de objecto indirecto.
Assim sendo, das duas frases que refere, a frase “para Carlos, não o perturbava a existência, ou mesmo a necessidade dos movimentos da vanguarda” pode ser considerada mais correcta, uma vez que respeita a regência do verbo perturbar como transitivo directo. Note que deverá usar a vírgula depois de “para Carlos”, uma vez que se trata de um complemento circunstancial antecipado.
quando muito / quanto muito
Desde sempre usei a expressão
quando muito
para exprimir uma dúvida razoável ou uma cedência como em:
Quando muito, espero por ti até às 4 e 15.
De há uns tempos para cá, tenho ouvido E LIDO
quanto muito
usado para exprimir o mesmo. Qual deles está certo?
No que diz respeito ao registo lexicográfico de
quando muito
ou de
quanto muito
, dos dicionários de língua que habitualmente registam locuções, todos eles registam apenas
quando muito
, com o significado de “no máximo” ou “se tanto”, nomeadamente o
Grande Dicionário da Língua Portuguesa
(coordenado por José Pedro Machado, Lisboa: Amigos do Livro Editores, 1981), o
Dicionário Houaiss
(Lisboa: Círculo de Leitores, 2002) e o
Dicionário Aurélio
(Curitiba: Positivo, 2004). A única excepção é o
Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea
da Academia das Ciências (Lisboa: Verbo, 2001), que regista como equivalentes as locuções adverbiais
quando muito
e
quanto muito
. Do ponto de vista lógico e semântico, e atendendo às definições e distribuições de
quando
e
quanto
, a locução
quando muito
é a que parece mais justificável, pois uma frase como
quando muito, espero por ti até às 4 e 15
seria parafraseável por
espero por ti até às 4 e 15, quando isso já for muito ou demasiado
. Do ponto de vista estatístico, as pesquisas em
corpora
e em motores de busca evidenciam que, apesar de a locução
quanto muito
ser bastante usada, a sua frequência é muito inferior à da locução
quando muito
. Pelos motivos acima referidos, será aconselhável utilizar
quando muito
em detrimento de
quanto muito
.
Ver todas
Palavra do dia
natalino
natalino
(
na·ta·li·no
na·ta·li·no
)
adjectivo
adjetivo
Relativo à época do Natal (ex.:
enfeites natalinos
).
=
NATALÍCIO
Origem etimológica:
natal + -ino
.