Qual a maneira correcta de escrever o nome da freguesia alentejana Évoramonte, Evoramonte, Évora Monte, Évora-Monte? Não encontro consenso...
A grafia correcta desta povoação alentejana deverá ser
Évora Monte, segundo as principais obras de referência, nomeadamente o
Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, de Rebelo Gonçalves (Coimbra:
Editora Coimbra, 1966) ou o Dicionário Onomástico Etimológico da Língua
Portuguesa, de José Pedro Machado (Lisboa: Livros Horizonte, 2003). Do ponto
de vista oficial, também é a forma Évora Monte que consta no
Sistema de Informação e Gestão do Recenseamento Eleitoral, da
Direcção Geral da Administração Interna e na
lista de freguesias publicada pelo STAPE em 2005.
No Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa, José Pedro
Machado refere que o nome da povoação “está por Évora do monte ou
Évora a do monte” e apresenta-nos uma abonação do que deverá ser a mais
antiga ocorrência conhecida deste topónimo: Euoramonti (ocorre em 1271,
na Chancelaria de D. Afonso III), o que, de alguma forma, poderá explicar
a forma Evoramonte, que é desaconselhável. Esta forma é, no entanto,
bastante frequente, provavelmente também por
analogia com outros topónimos em que a palavra monte se aglutinou com
outras palavras, como Belmonte, Vaiamonte ou Videmonte.
A grafia Évora-Monte é de evitar e a
forma Évoramonte é claramente
violadora das regras ortográficas do português, uma vez que as palavras em
português só podem ser graficamente acentuadas numa das três últimas sílabas.
Tenho duas questões a colocar-vos, ambas directamente relacionadas com um programa televisivo sobre língua portuguesa que me impressionou bastante pela superficialidade e facilidade na análise dos problemas da língua. Gostaria de saber então a vossa avisada opinião sobre os seguintes tópicos:
1) no plural da palavra "líder" tem de haver obrigatoriamente a manutenção da qualidade da vogal E?
2) poderá considerar-se que a expressão "prédio em fase de acabamento" é um brasileirismo?
1) No plural da
palavra líder, a qualidade da vogal postónica (isto é, da vogal que
ocorre depois da sílaba tónica) pode ser algo problemática para alguns falantes.
Isto acontece porque, no português europeu, as vogais a, e e o
geralmente não se reduzem foneticamente quando são vogais átonas seguidas de
-r em final de palavra (ex.: a letra e de líder,
lê-se [ɛ],
como a letra e de pé e não como a de se),
contrariamente aos contextos em que estão em posição final absoluta (ex.: a letra
e de chave, lê-se [i], como a
letra e de se e não como a de pé).
No entanto, quando estas vogais deixam de estar em posição final de palavra (é o
caso do plural líderes, ou de derivados como liderar
ou liderança), já é possível fazer a elevação e
centralização das vogais átonas, uma regularização muito comum no português,
alterando assim a qualidade da vogal átona de
[ɛ] para [i], como na alternância
comédia > comediante ou pedra >
pedrinha. Algumas palavras, porém, mantêm inalterada a
qualidade vocálica mesmo em contexto átono (ex.: mestre > mestrado),
apesar de se tratar de um fenómeno não regular. Por este motivo, as pronúncias
líd[i]res ou líd[ɛ]res
são possíveis e nenhuma delas pode ser considerada incorrecta; esta reflexão
pode aplicar-se à flexão de outras palavras graves terminadas em -er,
como cadáver, esfíncter, hambúrguer, pulôver
ou uréter.
2) Não há qualquer motivo linguístico nem estatístico para considerar brasileirismo a expressão em fase de acabamento. Pesquisas em corpora e em motores de busca demonstram que a expressão em fase de acabamento tem, no português europeu, uma frequência muito semelhante a em fase de acabamentos.