Desde sempre usei a expressão quando muito para exprimir uma dúvida razoável ou uma cedência como em: Quando muito, espero por ti até às 4 e 15.
De há uns tempos para cá, tenho ouvido E LIDO quanto muito usado para exprimir o mesmo. Qual deles está certo?
No que diz respeito
ao registo lexicográfico de quando muito ou de quanto muito, dos
dicionários de língua que habitualmente registam locuções, todos eles registam
apenas quando muito, com o significado de “no máximo” ou “se tanto”,
nomeadamente o Grande Dicionário da Língua Portuguesa (coordenado por
José Pedro Machado, Lisboa: Amigos do Livro Editores, 1981), o Dicionário
Houaiss (Lisboa: Círculo de Leitores, 2002) e o Dicionário Aurélio
(Curitiba: Positivo, 2004). A única excepção é o Dicionário da Língua
Portuguesa Contemporânea da Academia das Ciências (Lisboa: Verbo, 2001), que
regista como equivalentes as locuções adverbiais quando muito e quanto
muito. Do ponto de vista lógico e semântico, e atendendo às definições e
distribuições de
quando e
quanto, a locução quando muito é a que parece mais justificável,
pois uma frase como quando muito, espero por ti até às 4 e 15 seria
parafraseável por espero por ti até às 4 e 15, quando isso já for muito ou
demasiado. Do ponto de vista estatístico, as pesquisas em corpora e
em motores de busca evidenciam que, apesar de a locução quanto muito ser
bastante usada, a sua frequência é muito inferior à da locução quando muito.
Pelos motivos acima referidos, será aconselhável utilizar quando muito em
detrimento de quanto muito. Última crónica de António Lobo Antunes na Visão "Aguentar à bronca", disponível online.
1.º Parágrafo: "Ficaram por ali um bocado no passeio, a conversarem, aborrecidas por os homens repararem menos nelas do que desejavam.";
2.º Parágrafo: "nunca imaginei ser possível existirem cigarros friorentos, nunca os tinha visto, claro, mas aí estão eles, a tremerem. Ou são os dedos que tremem?".
Dúvidas: a conversarem ou a conversar? A tremerem ou a tremer? O uso do infinitivo flexionado (ou pessoal) e do infinitivo não flexionado
(ou impessoal) é uma questão controversa da língua portuguesa, sendo mais
adequado falar de tendências do que de regras, uma vez que estas nem sempre
podem ser aplicadas rigidamente (cf. Celso CUNHA e Lindley CINTRA, Nova
Gramática do Português Contemporâneo, Lisboa: Edições Sá da Costa, 1998, p.
482). É também por essa razão que dúvidas como esta são muito frequentes e as
respostas raramente podem ser peremptórias.
Em ambas as frases que refere as construções com o infinitivo flexionado são
precedidas pela preposição a e estão delimitadas por pontuação. Uma das
interpretações possíveis é que se trata de uma oração reduzida de infinitivo,
com valor adjectivo explicativo, à semelhança de uma oração gerundiva (ex.:
Ficaram por ali um bocado no passeio, a conversarem, aborrecidas
[...] =
Ficaram por ali um bocado no passeio, conversando, aborrecidas [...];
nunca imaginei ser possível existirem cigarros friorentos [...] mas aí
estão eles, a tremerem. = nunca imaginei ser possível existirem
cigarros friorentos [...] mas aí estão eles, tremendo.). Nesse caso,
não há uma regra específica e verifica-se uma oscilação no uso do infinitivo
flexionado ou não flexionado.
No entanto, se estas construções não estivessem separadas por pontuação do resto
da frase, não tivessem valor adjectival e fizessem parte de uma locução verbal,
seria obrigatório o uso da forma não flexionada: Ficaram por ali um bocado no
passeio a conversar, aborrecidas [...] = Ficaram a conversar
por ali um bocado no passeio, aborrecidas [...]; nunca imaginei ser possível
existirem cigarros friorentos [...] nunca os tinha visto, claro, mas aí
estão eles a tremer. = nunca imaginei ser possível existirem
cigarros friorentos [...] nunca os tinha visto, claro, mas eles aí estão a
tremer. Neste caso, a forma flexionada do infinitivo pode ser
classificada como agramatical (ex.: *ficaram a conversarem, *estão a tremerem [o
asterisco indica agramaticalidade]), uma vez que as marcas de flexão em pessoa e
número já estão no verbo auxiliar ou semiauxiliar (no caso, estar e
ficar).