Os nomes próprios têm plural: ex. A Maria, as Marias?
Os nomes próprios de pessoa, ou antropónimos, também podem ser flexionados no
plural, designando várias pessoas com o mesmo prenome (No ginásio há duas
Marias e quatro Antónios) ou aspectos diferentes de uma
mesma pessoa/personalidade (Não sei qual dos Joões prefiro: o João
aventureiro que começou a empresa do zero, e que vestia calças de ganga, ou o
João empresário de sucesso, que só veste roupa de marca).
Os nomes próprios usados como sobrenome podem igualmente ser flexionados no
plural. Neste caso, convergem duas práticas: a mais antiga, atestada no romance
Os Maias de Eça de Queirós, pluraliza artigo e nome próprio (A casa
dos Silvas foi vendida) e a mais actual
pluraliza apenas o artigo (Convidei os Silva para jantar).
Na frase "Quem encontrou uns óculos no banheiro, favor entregar ao setor de Meio Ambiente", a dúvida é se posso colocar uns óculos, mesmo possuindo um único par de óculos perdidos.
A concordância uns óculos está correcta e *um
óculos é um erro a evitar (o asterisco indica agramaticalidade).
O exemplo apontado (óculos)
é um caso de pluralia tantum (‘apenas plural’), designação latina dada a
palavras ou expressões que correspondem a um plural gramatical, mas que designam
um objecto ou referente singular, normalmente formado por duas partes mais ou
menos simétricas (outros exemplos serão binóculos ou calças). Com
estas palavras tem de haver sempre concordância com a terceira pessoa do
plural (ex.: os binóculos partidos estão
em cima da mesa; as calças rasgadas foram
cosidas), pois gramaticalmente são substantivos no plural,
mesmo se designam uma realidade única; é também frequente nestes casos o uso do
numeral colectivo par de, o que permite fazer concordâncias no singular
(ex.: o par de binóculos partidos/partido está
em cima da mesa; o par de calças rasgadas/rasgado foi
cosido).
A hesitação na utilização da palavra óculos parece resultar de dois
factores. O primeiro factor relaciona-se com a influência de um fenómeno
relativamente comum no português do Brasil, que consiste na preferência do
singular para designar um referente composto por duas peças (ex.: Comprei uma
calça nova; Está usando sandália importada), sem que a interpretação
implique apenas um elemento do par (repare-se no entanto que as formas *uma
calças / *umas calça e *uma sandálias / *umas sandália
são incorrectas, como indica o asterisco). O segundo factor, como refere Cláudio
Moreno em O Prazer das Palavras (Porto Alegre, RBS Publicações, 2004, p.
122), relaciona-se com o facto de óculos não ser entendido como plural de
óculo e ser confundido com um substantivo de dois números (isto é, que
tem a mesma forma para o singular e para o plural) terminado em -s, como
lápis (ex.: Comprei um lápis novo; Está usando lápis importados).
Estes dois factores conjugam-se na construção de estruturas erradas como *meu
óculos escuro.