Gostaria de esclarecimento quanto ao uso do se não e senão.
Para a distinção entre a palavra senão e a locução se não, é necessário analisar os contextos em que as mesmas ocorrem.
A palavra
senão pode ter vários usos, consoante a classe gramatical a que pertence. Como preposição, é usada antes de grupos nominais ou frases infinitivas para indicar uma excepção ou uma restrição, geralmente em frases
negativas (ex.: não comeu nada senão chocolates;não fazia senão resmungar; não teve alternativa senão refazer o trabalho) ou interrogativas (ex.: que
alternativa tenho senão refazer tudo? fazes outra coisa
senão dormir?). Como conjunção, a palavra é usada para
introduzir uma frase subordinada que indica uma consequência se houver negação
do que é dito na oração principal (ex.: estuda, senão terás
negativa no teste = não estudas, então tens negativa
no teste). Pode ainda ser substantivo, indicando uma “qualidade
negativa” (ex.: a casa tem apenas um senão: é muito fria no
Inverno).
Os contextos acima (especialmente aquele em que senão é conjunção) são
frequentemente confundidos com o uso da palavra
seseguida do advérbio
não. De entre os valores de se (enunciados na resposta
se: conjunção ou pronome), os que mais frequentemente aparecem
combinados com o advérbio não são os de conjunção condicional (ex.
poderá incorrer em contra-ordenação, se não respeitar o código
da estrada; agiu como se não tivesse acontecido nada) e
de conjunção integrante (ex.: perguntou se não havia
outra solução; verificou se não se esquecera de nada).
A confusão que alguns falantes fazem entre estas construções advém
adicionalmente do facto de o uso como conjunção senão poder ocorrer
algumas vezes no mesmo contexto do uso da conjunção condicional se. Por
exemplo, na frase estuda, senão terás negativa no teste é possível
admitir o uso da conjunção se seguida do advérbio não, partindo da
hipótese de que se pode tratar de uma oração condicional em que o verbo está
omitido (estuda, se não [estudares] terás negativa no teste). O
uso da locução se não nos contextos de senão como preposição e
como substantivo é incorrecta (ex.: *não comeu nada se não chocolates;
*a casa tem apenas um se não) e vice-versa (ex.: *agiu como senão tivesse
acontecido nada; *verificou senão se esquecera de nada).
Há outros contextos mais raros em que há ocorrência de se seguido de
não, como na inversão da ordem normal do advérbio e do pronome clítico se
(ex.: é bom que se não experimente uma tragédia
semelhante = que não se experimente).
Gostaria de saber a diferença entre os verbos gostar e querer, se são transitivos e como são empregados.
Não obstante a classificação de verbo intransitivo por alguns autores, classificação que não dá conta
do seu verdadeiro comportamento sintáctico, o verbo
gostar é
essencialmente transitivo indirecto, sendo os seus complementos introduzidos por
intermédio da preposição de ou das suas contracções (ex.: As crianças
gostam de brincar; Eles gostavam muito dos
primos;
Não gostou nada daquela sopa; etc.). Este uso preposicionado
do verbo gostar nem sempre é respeitado, sobretudo com alguns
complementos de natureza oracional, nomeadamente orações relativas, como em O
casaco (de) que tu gostas está em saldo, ou orações completivas finitas,
como em Gostávamos (de) que ficassem para jantar. Nestes casos, a omissão
da preposição de tem vindo a generalizar-se.
O verbo querer
é essencialmente transitivo directo, não sendo habitualmente os seus complementos
preposicionados (ex.: Quero um vinho branco; Ele sempre
quis ser cantor; Estas plantas querem água; Quero
que eles sejam felizes; etc.). Este verbo é ainda usado como transitivo indirecto, no sentido de "estimar, amar" (ex.: Ele quer muito a seus filhos; Ele lhes quer muito), sobretudo no português do Brasil.
Pode consultar a regência destes (e de outros) verbos em dicionários específicos
de verbos como o Dicionário Sintáctico de Verbos Portugueses (Coimbra:
Almedina, 1994), o Dicionário de Verbos e Regimes, (São Paulo: Globo,
2001) ou a obra 12 000 verbes portugais et brésiliens - Formes et emplois,
(“Collection Bescherelle”, Paris: Hatier, 1993). Alguns dicionários de língua
como o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa (edição brasileira da
Editora Objetiva, 2001; edição portuguesa do Círculo de Leitores, 2002) também
fornecem informação sobre o uso e a regência verbais. O Dicionário da Língua
Portuguesa Contemporânea (Lisboa: Academia das Ciências/Verbo, 2001), apesar
de não ter classificação explícita sobre as regências verbais, fornece larga
exemplificação sobre o emprego dos verbos e respectivas regências.
[Finanças]
[Finanças]
Processo em que o contribuinte é responsável pelo cálculo, declaração e pagamento de uma taxa ou imposto, sem intervenção directa ou inicial do fisco ou de uma autoridade tributária (ex.: autoliquidação anual; autoliquidação trimestral; a empresa procedeu à autoliquidação do valor).