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Ouve-se em certos telejornais expressões como a cujo
ou em cujo; contudo gostaria de saber se gramaticalmente a palavra
cujo pode ser antecedida de preposição.
O uso do pronome relativo cujo, equivalente à expressão do qual, pode ser antecedido de preposição em contextos que o justifiquem, nomeadamente quando a regência de
alguma palavra ou locução a tal obrigue. Nas frases abaixo podemos verificar que o pronome está correctamente empregue antecedido de várias preposições (e não apenas a ou em) seleccionadas por determinadas palavras (nos exemplos de 1 e 2) ou na construção de adjuntos adverbiais (nos exemplos de 3 e 4):
1) O aluno faltoua alguns exames. O aluno reprovou nas disciplinas a cujo exame faltou. (=O aluno reprovou nas disciplinas ao exame das quaisfaltou);
2) Não haverá recursoda decisão. Os casos serão julgados pelo tribunal, de cuja
decisão não haverá recurso. (=Os casos serão julgados pelo tribunal, dadecisão do qual não haverá recurso);
4) Houve danos em algumas casas.Os moradores emcujas casas houve danos foram indemnizados. (=Os moradores nas casas dos quais houve danos foram indemnizados);
5) Exige-se grande responsabilidade para o exercício desta profissão. Esta é uma profissão paracujo exercício se exige grande responsabilidade.
(=Esta é uma profissão para o exercício da qual se exige grande responsabilidade).
Se entre vogais s vale z, o porquê de cozinha
e certeza se escreverem com z e não s e o porquê de casa se escrever com s e não com z? Porquê, por exemplo, vaso, casinha, casita, vasito com s entre duas vogais e porquê, por exemplo, leãozinho, leãozito, cãozinho?
A ortografia do português, como a ortografia de qualquer língua, é um conjunto de regras
convencionadas e artificiais que procuram reflectir o sistema fonológico e
morfológico da língua, em muitos casos com invocação de motivos etimológicos,
desconhecidos da maioria dos utilizadores da língua. Por este motivo, são
normalmente os utilizadores da língua que mais lêem e escrevem quem melhor
domina a ortografia, por desenvolverem uma memória e uma prática ortográfica.
A ortografia portuguesa só começou a ter alguma estabilidade a partir do final
do séc. XIX, com o início das reformas ortográficas. A instabilidade anterior a
esta altura poderá facilmente ser verificada em textos antigos, em dicionários
etimológicos ou em dicionários com formas históricas, como o Dicionário
Houaiss (edição brasileira da Editora Objetiva, 2001; edição portuguesa do
Círculo de Leitores, 2002). Poderá verificar, por exemplo, que a grafia de
casa se encontra atestada como casa em 1221, como quasa, em
1278, como caza, em 1352 ou como cassa, no séc. XIV. Este é apenas
um exemplo, mas é possível encontrar casos afins, até no séc. XX, de grafias que
nos parecerão muito estranhas, atendendo à ortografia actual, fixada sobretudo a
partir da década de 40 do séc. XX, com o
Acordo Ortográfico de 1945, para o português europeu e com o Formulário
Ortográfico de 1943, para o português do Brasil.
A juntar a estes factores, e também decorrente deles, há o facto de a relação
entre os sinais gráficos (as letras) e os sons por eles representados não serem
unívocos. Para uma letra (ex.: s) pode então haver várias pronúncias (ex.:
[s] em sal, [z] em casa, [S]
em cais, [Z]
em mesmo) e para um som (ex.: [s]) pode haver várias grafias (ex.
sal, massa, macio, coçar, trouxe).
Apesar do que foi dito anteriormente, há ortografias que decorrem de processos
regulares de derivação etimológica, em muitos casos a partir do latim. Desta
forma, o facto de a letra -s- se pronunciar [z] em contextos
intervocálicos não invalida que a letra -z- possa ocorrer nesses mesmos
contextos, por motivos etimológicos, sobretudo ligados à transformação, na
passagem do latim ao português, de consoantes oclusivas latinas (o -c-
latino tinha valor de [k]) em consoantes sibilantes antes das letras -e-
e -i- (ex.: gallicia > galiza; judiciu(m) > juízo; luce(m) > luz;
minacia > ameaça). Este fenómeno, designado assibilação, é comum a várias
línguas neolatinas (ex.: judiciu(m) > judicieux [francês], juicio
[espanhol]; minacia > menace [francês], amenaza [espanhol]).
Os últimos exemplos apresentados na dúvida colocada são diminutivos e apresentam
dois sufixos distintos apostos à palavra ou ao radical. Nos casos de cão
> cãozinho e de leão > leãozinho,
leãozito, são utilizados os sufixos -zinho ou -zito.
Nos casos de casa > casinha,
casita e de vaso > vasito,
aos radicais de cada uma das palavras foram acrescentados os sufixos -inho
ou -ito e o -s- que aparece nestas palavras pertence ao radical e
não ao sufixo diminutivo. Sobre os sufixos diminutivos, consulte ainda a
resposta diminutivos (I).