Tenho algumas dúvidas relativamente à posição do pronome nas seguintes estruturas gramaticais, deve dizer-se: a) gostava de o ver ou gostava de vê-lo; b) tenho o prazer de o convidar ou tenho o prazer de convidá-lo?
Nas frases
apontadas, ambas as hipóteses podem ser utilizadas e nenhuma delas é considerada
incorrecta. Nas hipóteses gostava de vê-lo e tenho o
prazer de convidá-lo, o pronome átono o ocupa a
sua posição canónica, à direita do verbo de que depende (ver e
convidar, respectivamente), mas, na colocação dos clíticos, as preposições
provocam geralmente a próclise, isto é, a atracção do clítico para antes do
verbo (gostava de o ver e tenho o prazer de
o convidar). Esta colocação proclítica é, no entanto,
obrigatória quando o verbo está no infinitivo flexionado (ex.: Empresto-te o
livro, mas é para o leres com atenção; Ele
indignou-se por lhe omitirmos informação; e
nunca *Empresto-te o livro, mas é para lere-lo com atenção;
*Ele indignou-se por omitirmos-lhe informação; o
asterisco indica agramaticalidade).
A descrição feita
acima não se aplica à preposição a, com a qual não há geralmente atracção do
clítico (ex.: Eles estavam a insultar-se; Aconselhei as
crianças a reconciliarem-se; e não *Eles estavam a
se insultar; Aconselhei as crianças a se
reconciliarem), senão em registos dialectais do português europeu e, mais frequentemente, no português do Brasil.
Uma professora minha disse que nunca se podia colocar uma vírgula entre o sujeito e o verbo. É verdade?
Sobre o uso da vírgula em geral, por favor consulte a dúvida
vírgula antes da conjunção e. Especificamente sobre a questão colocada,
de facto, a indicação de que não se pode colocar
uma vírgula entre o sujeito e o verbo é verdadeira. O uso da vírgula, como o da
pontuação em geral, é complexo, pois está intimamente ligado à decomposição
sintáctica, lógica e discursiva das frases. Do ponto de vista lógico e
sintáctico, não há qualquer motivo para separar o sujeito do seu predicado (ex.:
*o rapaz [SUJEITO], comeu [PREDICADO]; *as
pessoas que estiveram na exposição [SUJEITO],
gostaram muito [PREDICADO]; o asterisco indica agramaticalidade).
Da mesma forma, o verbo não deverá ser separado dos complementos obrigatórios
que selecciona (ex.: *a casa é [Verbo], bonita [PREDICATIVO
DO SUJEITO]; *o rapaz comeu [Verbo], bolachas
e biscoitos [COMPLEMENTO DIRECTO]; *as pessoas gostaram
[Verbo], da exposição [COMPLEMENTO
INDIRECTO]; *as crianças ficaram [Verbo],
no parque [COMPLEMENTO ADVERBIAL OBRIGATÓRIO]). Pela mesma
lógica, o mesmo se aplica aos complementos seleccionados por substantivos (ex.
* foi a casa, dos avós), por adjectivos (ex.: *estava
impaciente, por sair) ou por advérbios (*lava as mãos antes,
das refeições), que não deverão ser separados por vírgula da palavra que os
selecciona.
Há, no entanto, alguns contextos em que pode haver entre o sujeito e o verbo uma estrutura sintáctica separada por vírgulas, mas apenas no caso de essa estrutura poder ser isolada por uma vírgula no início e no fim. Estes são normalmente os
casos de adjuntos nominais (ex.: o rapaz, menino muito magro, comeu muito),
adjuntos adverbiais (ex.: o rapaz, como habitualmente, comeu muito),
orações subordinadas adverbiais (ex.: as pessoas que estiveram na exposição,
apesar das más condições, gostaram muito), orações subordinadas relativas explicativas (ex.: o rapaz, que até não tinha fome,
comeu muito).