Gostaria
de saber qual destas frases está correcta e porquê: a) Se eu fosse rico,
ofereceria-lhe... b) Se eu fosse rico, oferecer-lhe-ia...
Quando utiliza um pronome clítico (ex.: o, lo, me, nos) com um verbo no futuro do indicativo (ex.
oferecer-lhe-ei) ou no
condicional, também chamado futuro do pretérito, (ex.: oferecer-lhe-ia), deverá fazer a mesóclise,
isto é, colocar o pronome clítico entre o radical do verbo (ex.: oferecer)
e a terminação que indica o tempo verbal e a pessoa gramatical (ex.: -ei ou
-ia). Assim
sendo, a frase correcta será Se eu fosse rico, oferecer-lhe-ia...
Esta colocação dos pronomes clíticos é aparentemente estranha em relação aos
outros tempos verbais, mas deriva de uma evolução histórica na língua portuguesa
a partir do latim vulgar. As formas do futuro do indicativo (ex.: oferecerei)
derivam de um tempo verbal composto do infinitivo do verbo principal (ex.: oferecer) seguido de uma forma do presente do verbo haver (ex.:
hei),
o que corresponderia hipoteticamente, no exemplo em análise, a oferecer hei.
Se houvesse necessidade de inserir um pronome, ele seria inserido a seguir ao
verbo principal (ex.: oferecer lhe hei). Com as formas do condicional (ex.
ofereceria), o caso é semelhante, com o verbo principal (ex.: oferecer)
seguido de uma forma do imperfeito do verbo haver (ex.: hia < havia), o
que corresponderia hipoteticamente, no exemplo em análise, a oferecer hia
e, com pronome, a oferecer lhe hia.
É de notar que a reflexão acima não se aplica se houver alguma palavra ou
partícula que provoque a próclise do clítico, isto é, a sua colocação antes do
verbo (ex.: Jamais lhe ofereceria flores. Sei que lhe ofereceria flores).
Com relação à conjugação do verbo adequar e às explicações que vocês forneceram para uma consulta enviada, quero registrar que estranha-me o fato de vocês terminarem a explicação dizendo "..., como afirma Rebelo Gonçalves, que o termo (no caso, uma forma verbal) que hoje não passa de uma hipótese, futuramente poderá ser uma realidade."
Seguramente, se formos considerar tudo o que hoje é uma hipótese, já como realidade ouviremos inúmeros "a nível de Brasil", "houveram muitos problemas", "menas pessoas", "há dez anos atrás", "fazem muitos anos que não a vejo", etc.
Entendo que, a partir daí, as regras gramaticais não farão mais nenhum sentido na nossa língua portuguesa.
Sem contar que na conjugação desse mesmo verbo, no Pretérito Perfeito do Indicativo, vocês acentuaram a primeira pessoa do plural, regra de acentuação que desconheço e que, se vocês observarem, também não consta do Houaiss.
Permita-me uma segunda observação: a resposta para essa pesquisa vocês consultaram Rebelo Gonçalves, no Vocabulário da Língua Portuguesa, datado de 1966. A última reforma ortográfica data, se não me engano, de 1973, portanto muito tempo depois.
A defectividade de determinados verbos sempre foi objecto de discussão entre
linguistas e gramáticos, uma vez que, apesar de alguns serem considerados
defectivos em determinadas acepções, o uso das restantes formas que não fazem
parte do paradigma defectivo é sempre possível em determinados contextos. Os
outros casos que refere como sendo também possíveis de utilização normativa
futura são consensuais entre os gramáticos quanto à sua incorrecção, não gerando
qualquer discórdia a nível semântico, lexical ou sintáctico. A justificação
apresentada na resposta quer apenas indicar que, enquanto até há pouco tempo os
dicionários de língua e de conjugação registavam alguns verbos como defectivos,
existem obras que actualmente conjugam os mesmos verbos em todas as pessoas,
fazendo a indicação da sua defectividade nas gramáticas tradicionais.
O Vocabulário de Rebelo Gonçalves, apesar de editado em 1966, continua a
ser a referência para a elaboração de obras lexicográficas e para o
esclarecimento de muitas dúvidas. Enquanto não sair do prelo a nova edição
revista do Vocabulário de Rebelo Gonçalves ou um novo elaborado pela
Academia das Ciências de Lisboa que venha a ser reconhecidamente a referência
lexicográfica para o Português europeu, aquele continuará a ser a base por
excelência para a elaboração de dicionários e para a resolução de dúvidas
lexicais (para a norma europeia do Português).
Ao contrário do que refere, a última reforma ortográfica não data de 1973, uma
vez que a lei promulgada nesse ano em Portugal é apenas uma revisão e
simplificação de determinados pontos do acordo ortográfico de 1945, que o Brasil
não ratificou.
Quanto à flexão acentuada graficamente do verbo adequar no pretérito
perfeito do indicativo (adequámos), o paradigma dos verbos regulares da
1.ª conjugação prevê, em Portugal e não no Brasil, que se acentue as formas da
primeira pessoa do plural do pretérito perfeito do indicativo (que em Portugal
se pronunciam com a aberto) para se distinguir das formas do presente do
indicativo (que em Portugal se pronunciam com a fechado): comprámos/compramos,
lavámos/lavamos, registámos/registamos, etc.
Portanto, a conjugação apresentada no Dicionário Priberam da Língua Portuguesa
está de acordo com o estabelecido no acordo ortográfico em vigor em Portugal.