Morfologicamente, como classificamos a expressão "cerca de"?
A expressão cerca de é composta pelo (pouco usado) advérbio cerca
seguido da preposição de, sequência (advérbio + preposição) que, segundo
a Nova Gramática do Português Contemporâneo, de Celso Cunha e Lindley
Cintra (Lisboa: Ed. João Sá da Costa, 1998, 14.ª ed., p. 541) faz dela uma
locução prepositiva, isto é, uma locução que tem a função de uma preposição.
Esta locução é assim classificada no Dicionário da Língua Portuguesa
Contemporânea da Academia das Ciências de Lisboa, um dos raros dicionários
que classificam as locuções; no entanto, em alguns contextos, esta locução tem
um comportamento que a aproxima mais de um advérbio do que de uma preposição
(ex.: esperei cerca de 30 minutos = esperei aproximadamente
30 minutos), pelo que nestes casos, deveria ser considerada uma locução
adverbial.
Gostaria de saber se existe alguma regra de fonética para o plural de palavras tais como: fogo, poço, jogo...
É que eu fui ensinado a pronunciar:
fógos, póços, jógos...
ao invés de fôgos, pôços, jôgos... (os acentos estão só como indicadores de fonética).
É que recentemente tenho ouvido alguns jornalistas pronunciar estas palavras com entoação "ô"...?
Agradecia que me esclarecessem esta dúvida.
Não existe oficialmente nenhuma regra fonética em português que dê conta da alternância vocálica entre o singular e o plural de palavras como fogo, poço, jogo, contorno, despojo, esforço, imposto, ovo, tijolo, troço, etc. Por essa razão, é natural que alguns falantes possam hesitar na pronúncia do plural destes termos.
As gramáticas e os prontuários incluem estas palavras em listas de vocábulos cuja vogal tónica, no singular, é o o fechado /ô/ mas que no plural se transforma em o aberto /ó/, fenómeno tradicionalmente designado por metafonia. Há, no entanto, muitos casos semelhantes em que o singular e o plural mantêm o mesmo o fechado, como por exemplo acordo(s) /ô/, gosto(s) /ô/ ou sopro(s) /ô/ (cf. Nova Gramática do Português Contemporâneo, de Celso Cunha e Lindley Cintra, p. 184). Essas listas nem sempre são consensuais, havendo mesmo divergências entre gramáticos e até entre a norma culta de Portugal e a do Brasil (por exemplo, o plural de almoço pronuncia-se almóços em Portugal mas almôços no Brasil).
Na sua Moderna Gramática Portuguesa (p. 124), Evanildo Bechara afirma que se tem recorrido à etimologia latina desses termos e ao paralelismo com a língua espanhola para desfazer hesitações de pronúncia, mas que tal não esclarece todas as dúvidas. Acresce que esse tipo de informação é opaca para a maioria dos falantes, pelo que a variação resulta de factores de evolução da língua mas também de uso, de analogia e até de hipercorrecção (Gramática do Português, organizada por Eduardo Paiva Raposo, p. 3302).
No artigo "Histórias de O", o linguista Ernesto d'Andrade faz a revisão de vários estudos desta alternância em português e fornece uma análise mais técnica, com base fonológica, deste fenómeno.
O Dicionário Priberam da Língua Portuguesa contém indicações de pronúncia, tanto no singular, quanto no plural dessas palavras.