Já percebi que, com a entrada em vigor do acordo ortográfico de 1990, os nomes dos meses e das estações do ano passarão a ser escritos em minúsculas. O que eu não percebi é a razão dessa alteração. Alguém me pode esclarecer? Diga-se de passagem que também nunca percebi porque é que, desde o acordo ortográfico de 1945, os nomes dos dias da semana passaram a ser escritos com minúsculas... Será pela mesma razão?
O uso de
maiúsculas está integrado num conjunto de regras ortográficas convencionadas.
Neste caso, os nomes de meses e estações do ano passaram a ser
considerados nomes comuns com o
Acordo Ortográfico de 1990, atendendo ao
seu paradigma morfológico e à aproximação ao paradigma dos dias da semana.
Relativamente aos nomes dos dias da semana e da sua grafia com minúscula já
segundo o Acordo Ortográfico de 1945, Rebelo Gonçalves (Tratado de Ortografia da
Língua Portuguesa, Coimbra: Atlântida Livraria Editora, 1947, p. 301) referia como único
argumento que “ao contrário dos demais cronónimos, os nomes dos dias da semana
escrevem-se, em obediência à tradição, com minúscula inicial”, o que não é
minimamente esclarecedor, mas nos elucida sobre o tipo de lógica subjacente às
convenções ortográficas.
Seria possível esclarecerem-me quanto à seguinte dúvida? Diz-se impresso / imprimido? E morto / morrido / matado?
Sei que só se pode usar cada uma das conjugações com uma forma dos verbos ser / estar / ter (este último não tenho a certeza).
Com quais formas posso usar? Qual a regra gramatical?
Apesar de desconhecida por grande parte dos falantes, existe uma regra da gramática tradicional que estipula que os particípios irregulares (ex.: impresso, morto, pago, salvo) devem ser utilizados com os verbos ser e estar (ex.: o documento foi impresso e ele foi morto) e os regulares (geralmente terminados em -ado ou -ido) com os verbos ter e haver (ex.: ela tinha imprimido o documento e ele disse que tinha matado o coelho). Citando Lindley Cintra e Celso Cunha, “de regra, a forma regular emprega-se na constituição dos tempos compostos da VOZ ACTIVA, isto é, acompanhada dos auxiliares ter ou haver; a irregular usa-se, de preferência, na formação dos tempos da VOZ PASSIVA, ou seja acompanhada do auxiliar ser.” *
No entanto, verifica-se uma tendência para o uso exclusivo de uma das formas do particípio, como é o caso de pago, ganho, gasto e entregue, que se utilizam com qualquer um dos verbos auxiliares, em detrimento da existência de formas participiais regulares (ex.: tinha entregue a encomenda, eles têm gasto muito dinheiro, etc.).
Existe uma falta de concordância entre obras lexicográficas no que diz respeito a esta questão. Se há autores que registam certos verbos como detentores de duplos particípios, outros, para os mesmos verbos, registam apenas as formas regulares. É o caso, por exemplo, de exaurir. Alguns autores referem exausto e exaurido como particípio de exaurir, mas outros registam apenas a segunda forma.
No que diz respeito aos particípios morto, morrido e matado, estes não são todos referentes ao mesmo verbo. Morto e matado são particípios de matar (ex.: ele foi morto pelo exército inimigo e ela tinha matado a mosca); morrido é particípio de morrer (ex.: tinha morrido há mais de dois anos).
* Cunha, Celso, Lindley Cintra, Nova Gramática do Português, 14.ª ed., Lisboa: Edições Sá da Costa, 1998, p. 441. A regra prevê, no entanto, excepções, como no caso do verbo imprimir: “Imprimir possui duplo
particípio quando significa «estampar», «gravar». Na acepção de «produzir
movimento», «infundir», usa-se apenas o particípio em -ido. Dir-se-á, por
exemplo: Este livro foi impresso em Portugal. Mas, por
outro lado: Foi imprimida enorme velocidade ao carro." (Celso
Cunha & Lindley Cintra, Op. cit., p. 442).