Como se pronuncia a letra E quando falamos a, e, i, o, u? a, é ou e, i... E
no alfabeto? A, b, c, d, e ou é... Quando vamos nos referir a
letra e ou é numa palavra, como devemos pronunciar? Por exemplo,
indaguei a um colega quantas letras E deveria colocar na palavra meeting.
Ele me respondeu que não era letra e, mas sim letra é que deveria
empregar. Qual seria a resposta correta?
O nome da letra E deverá ser lido [È]
(este é o símbolo do alfabeto fonético equivalente ao E das palavras pé
ou fera). Quanto à pronúncia
da letra E, ela pode corresponder a vários sons, consoante o contexto e, por
vezes, consoante as características lexicais de cada palavra. Assim, esta letra
pode corresponder à vogal [È] como em pé, fera
ou papel; à vogal [e] como em
dedo, seu ou vê; à vogal
[i] como em e (conjunção) ou eléctrico;
à vogal [i] como em estudante;
à vogal [á]
como em coelho, igreja, senha
ou eira; à semivogal [j] como em área
ou pães.
Da mesma forma, o nome da letra R é erre,
mas não se pronuncia erre numa palavra (pronuncia-se [r] entre vogais,
depois de uma consoante da mesma sílaba ou em final de palavra, como em caro,
cobra ou falar; pronuncia-se [R] em
início de palavra, em início de sílaba ou quando está duplicado como em
rua, palrar, tenro ou carro).
Gostaria de saber quais as preposições que podem ser usadas no complemento directo e indirecto. Eu levanto esta dúvida porque o verbo "abusar" é regido pela preposição "de" e, segundo sei, não tem complemento directo, o que me leva a concluir que a referida preposição não pode ser usada no complemento directo. Gostava de ser esclarecido se é de facto assim.
Outra questão que surge na sequência desta é a seguinte: eu li um artigo sobre gramática que dizia o seguinte: "O verbo abusar não tem, pois, complemento directo, pelo que não pode ser conjugado na voz passiva". Então é errado dizer "a Ana foi abusada"? (voz passiva)
Apesar de o verbo
abusar ser transitivo indirecto,
porque selecciona um complemento introduzido pela preposição de, algumas
acepções deste verbo (ex.: o indivíduo abusou da Ana) são comummente
usadas com passagem à voz passiva (ex.: a Ana foi
abusada pelo indivíduo), sendo o sujeito
da frase passiva não o complemento directo habitual da voz activa, mas o
complemento preposicionado.
Apesar de ser muito usada, esta não é uma construção consensualmente aceite.
Uma vez que, em português, o complemento directo da frase activa (ex.:
apanhou o gatuno) é o sujeito de uma frase passiva (ex.:
o gatuno foi apanhado), este comportamento do verbo abusar é
raro na língua, mas não é exclusivo deste verbo. Este fenómeno em que o
complemento preposicionado da voz activa é o sujeito da voz passiva (ex.: o
indivíduo abusou da Ana --> a Ana foi abusada pelo indivíduo),
pode ser encontrado mais frequentemente em verbos como responder (ex.:
respondeu logo à dúvida --> a dúvida foi logo respondida) ou
(des)obedecer (ex.: obedeceu às ordens --> as ordens foram obedecidas)
e ainda em alguns outros verbos (ex.: o aluno assistiu a poucas aulas -->
poucas aulas foram assistidas pelo aluno; o patrão não pagou à funcionária --> a
funcionária não foi paga pelo patrão; a defesa vai recorrer da sentença --> a
sentença vai ser recorrida pela defesa).
Por este motivo, alguns autores, por vezes denominados puristas da língua,
consideram erróneo o uso da passiva com verbos como estes, mas tendem a aceitar
o uso passivo de alguns deles (normalmente o verbo responder), sem outras
justificações sem ser a indicação de que o uso consagrou um ou outro.
Francisco Fernandes (Dicionário de Verbos e Regimes, São Paulo: Globo,
2001, 44.ª ed., p. 436), por outro lado, em relação ao verbo obedecer
(mas não em relação a nenhum dos outros) afirma que a voz passiva deste verbo “é
construção universalmente aceita”. O autor justifica-a apresentando o verbo
obedecer construído com objecto directo, que “não obstante condenado por
alguns autores de boa nota, é comum encontrar-se nos clássicos antigos”, como
exemplifica com abonações de Padre António Vieira ("Nem a Deus se podem
perguntar os porquês: obedecê-los sim, muda e cegamente.", Sermões, I, 257, "Não
só ofendiam a António, mas o obedeciam e reverenciavam.", Sermões, IV, 30).
Como conclusão da reflexão feita acima, pode dizer-se que a construção passiva
de verbos que não são transitivos directos é um fenómeno difícil de explicar a
não ser por estudos diacrónicos da língua que não temos possibilidade de fazer
facilmente. É então um fenómeno observável em raros verbos, mas com esses verbos
é muito frequente. Por ser uma construção algo polémica, o falante deverá ter em
conta que o seu uso pode ser contestado, pelo que, em contextos formais em que
se pretenda um discurso
irrepreensível, deverá ser uma construção evitada.