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Acordo Ortográfico de 1990
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Dúvidas linguísticas
prefabricado / pré-fabricado
Agradecia que me informassem qual a palavra correta,
prefabricado
ou
pré-fabricado
, e se possível qual a regra para as palavras hifenizadas.
Nenhuma das formas
prefabricado
/
pré-fabricado
pode ser considerada incorrecta, uma vez que existem ambos os prefixos
pre-
e
pré-
com o sentido de anterioridade e que não há consenso em relação ao registo destas palavras.
Com efeito, o registo das formas
prefabricado
/
pré-fabricado
não é consensual nas obras lexicográficas portuguesas, situação que ocorre há já muito tempo. A título de exemplo, o
Grande Dicionário da Língua Portuguesa
, de António de Morais Silva (10.ª ed., Lisboa: Editorial Confluência, 12 vol., 1949-1959), regista apenas as formas justapostas
pré-fabricado
e
pré-fabricar
, enquanto o
Vocabulário da Língua Portuguesa
, de Rebelo Gonçalves (Coimbra: Coimbra Editora, 1966) regista apenas as formas
prefabricado
e
prefabricar
. Se compararmos obras lexicográficas mais recentes, verificamos que a falta de consenso se mantém: por exemplo, o
Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia das Ciências de Lisboa
(Lisboa: Academia das Ciências de Lisboa / Editorial Verbo, 2001) regista unicamente as formas hifenizadas, mas o
Grande Dicionário Língua Portuguesa
, (1.ª ed., Porto: Porto Editora, 2004) regista ambas as formas, com e sem hífen, remetendo
pré-fabricado
e derivados para
prefabricado
e derivados, onde se encontram as definições. Esta opção da Porto Editora parecer ter sido entretanto revista porque, no dicionário disponível presentemente
online
, apenas surgem registadas as formas com hífen:
pré-fabricado
,
pré-fabricar
e
pré-fabricação
[consultas em 18-01-2017].
Tal flutuação parece não ter equivalente na presente dicionarização da norma brasileira, pois os principais dicionários e vocabulários brasileiros consultados registam apenas as formas hifenizadas (
pré-fabricado
,
pré-fabricar
e
pré-fabricação
), ainda que consultas em
corpora
e em motores de busca da Internet revelem que há alguma flutuação gráfica no uso dos falantes. Aliás, a tendência, na norma brasileira, parece ser a da manutenção do hífen, como se pode constar em outras derivações semelhantes, que, na norma portuguesa, permanecem sem hífen. Veja-se, por exemplo, os casos de
pré-habilitar
,
pré-adaptar
,
pré-adivinhar
,
pré-formar
ou
pré-limitar
, todos registados no
Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa
da Academia Brasileira de Letras (norma brasileira [consultas em 18-01-2017]), a par dos correspondentes
preabilitar
,
preadaptar
,
preadivinhar
,
preformar
ou
prelimitar
, todos registados no
Vocabulário Ortográfico Comum da Língua Portuguesa
(selecção: Portugal [consultas em 18-01-2017]). Um caso de aparente flutuação gráfica é o de
prealegar
, que só surge assim no
Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa
da Academia Brasileira de Letras, mas que se encontra hifenizado (
pré-alegar
) no
Dicionário Aurélio
. O
Dicionário Houaiss
(versão electrónica 1.0.5.a, Novembro de 2002) apresenta outros casos de flutuação quando refere, no prefixo
pré
-, que “[...] na medida em que um emprego de
pré-
tende a vulgarizar-se, na mesma medida tende a passar a
pre-
[
sic
]: o V.O. consigna o fato com registros dúplices:
pré-contração/precontração
,
pré-cordilheira/precordilheira
,
pré-forma/preforma
,
pré-formar/preformar
etc.”. Dos pares apontados, presentemente, o
Vocabulário Ortográfico
da Academia Brasileira de Letras regista apenas o par
pré-cordilheira/precordilheira
, tendo os restantes sido reduzidos às formas hifenizadas.
Sobre este assunto, o texto do Acordo Ortográfico de 1990 (AO90), mais precisamente a alínea f) do ponto 1.º da
Base XVI
, afirma o seguinte:
“[Usa-se o hífen] Nas formações com os prefixos tónicos/tônicos acentuados graficamente
pós
-,
pré
- e
pró
-, quando o segundo elemento tem vida à parte (ao contrário do que acontece com as correspondentes formas átonas que se aglutinam com o elemento seguinte):
pós-graduação
,
pós-tónico/pós-tônico
(mas
pospor
);
pré-escolar
,
pré-natal
(mas
prever
);
pró-africano
,
pró-europeu
(mas
promover
).”
O trecho acima só aparentemente resolve a situação, pois, a par das formas hifenizadas apresentadas com os prefixos
pós
-,
pré
- e
pró
-, os exemplos
pospor
,
prever
e
promover
surgem acima como casos de prefixação, e são-no, só que num estádio anterior à língua portuguesa, pois eles derivam do latim
postponere
,
praevidere
e
promovere
, respectivamente. Para além disso,
prever
, tal como
predefinir
ou
predispor
, tem a vogal da primeira sílaba fechada (lê-se
pre
... e não
pré
...), o que pode levar à inferência de que as derivações por prefixação com
pre-
são sempre lidas dessa maneira. Ora não é isso que acontece, por exemplo, em
preconceber
,
preestabelecer
ou
preexistir
(e seus derivados:
preconcebida
,
preestabelecimento
,
preexistentes
, etc.), derivações já estabilizadas na língua e cuja vogal da primeira sílaba permanece aberta (lê-se
pré
... e não
pre
...).
O que o texto do AO90 faz, no caso de flutuação gráfica, é legitimar uma tendência que ocorre em ambas as variedades do português, mas que só estava dicionarizada na norma brasileira, para escrever e ler
pré-
quando a vogal é aberta, tendência que parece reflectir-se nos casos de formações mais recentes (ex.:
pré-datar
,
pré-qualificação
) e nos casos em que é possível conceber um equivalente com
pós
- (ex.:
pós-datar
,
pós-qualificação
). O que o texto do AO90
não
faz é dizer explicitamente que não se pode escrever uma forma aglutinada com
pre-
quando a vogal é aberta, como
prefabricado
, razão pela qual, neste caso, o
Dicionário Priberam
regista ambas as grafias.
Por fim, relativamente à formação de palavras hifenizadas, não existe uma regra única que possa ser aplicada uniformemente. Recomenda-se a leitura da
Base XV
e da
Base XVI
do Acordo Ortográfico de 1990, que se debruçam sobre o emprego do hífen em compostos e em formações por prefixação, recomposição e sufixação.
pronúncia de periquito
Gostaria de saber qual a pronúncia correcta de
periquito
?
Ao contrário da ortografia, que é regulada por textos legais (ver o texto do
Acordo Ortográfico
), não há critérios rigorosos de correcção linguística no que diz respeito à pronúncia, e, na maioria dos casos em que os falantes têm dúvidas quanto à pronúncia das palavras, não se trata de erros, mas de variações de pronúncia relacionadas com o
dialecto
,
sociolecto
ou mesmo
idiolecto
do falante. O que acontece é que alguns gramáticos preconizam determinadas indicações ortoépicas e algumas obras lexicográficas contêm indicações de pronúncia ou até transcrições fonéticas; estas indicações podem então funcionar como referência, o que não invalida outras opções que têm de ser aceites, desde que não colidam com as relações entre ortografia e fonética e não constituam entraves à comunicação.
A pronúncia que mais respeita a relação ortografia/fonética será
p
[
i
]
riquito
, correspondendo o símbolo [
i
] à vogal central fechada (denominada muitas vezes “e mudo”), presente, no português europeu, em
d
e
,
saudad
e
ou
s
e
minu
. Esta é a opção de transcrição adoptada pelo
Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia das Ciências de Lisboa
e do
Grande Dicionário Língua Portuguesa
da Porto Editora. Há, no entanto, outro fenómeno que condiciona a pronúncia desta palavra, fazendo com que grande parte dos falantes pronuncie
p
[i]
riquito
, correspondendo o símbolo [i] à vogal anterior fechada, presente em
s
i
,
m
i
nuta
ou
táx
i
. Trata-se da
assimilação
(fenómeno fonético que torna iguais ou semelhantes dois ou mais segmentos fonéticos diferentes) do som [
i
] de
p
[
i
]
riquito
pelo som [i] de
per
[i]
qu
[i]
to
.
A
dissimilação
, fenómeno mais frequente em português e inverso da
assimilação
, é tratada na resposta
pronúncia de ridículo, ministro ou vizinho
.
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ovolactovegetarianismo
ovolactovegetarianismo
(
o·vo·lac·to·ve·ge·ta·ri·a·nis·mo
o·vo·lac·to·ve·ge·ta·ri·a·nis·mo
)
nome masculino
Sistema de alimentação à base de vegetais, ovos e leite.
Origem etimológica:
ovolactovegetariano + -ismo
.