Como se pronuncia a letra E quando falamos a, e, i, o, u? a, é ou e, i... E
no alfabeto? A, b, c, d, e ou é... Quando vamos nos referir a
letra e ou é numa palavra, como devemos pronunciar? Por exemplo,
indaguei a um colega quantas letras E deveria colocar na palavra meeting.
Ele me respondeu que não era letra e, mas sim letra é que deveria
empregar. Qual seria a resposta correta?
O nome da letra E deverá ser lido [È]
(este é o símbolo do alfabeto fonético equivalente ao E das palavras pé
ou fera). Quanto à pronúncia
da letra E, ela pode corresponder a vários sons, consoante o contexto e, por
vezes, consoante as características lexicais de cada palavra. Assim, esta letra
pode corresponder à vogal [È] como em pé, fera
ou papel; à vogal [e] como em
dedo, seu ou vê; à vogal
[i] como em e (conjunção) ou eléctrico;
à vogal [i] como em estudante;
à vogal [á]
como em coelho, igreja, senha
ou eira; à semivogal [j] como em área
ou pães.
Da mesma forma, o nome da letra R é erre,
mas não se pronuncia erre numa palavra (pronuncia-se [r] entre vogais,
depois de uma consoante da mesma sílaba ou em final de palavra, como em caro,
cobra ou falar; pronuncia-se [R] em
início de palavra, em início de sílaba ou quando está duplicado como em
rua, palrar, tenro ou carro).
Na frase "...o nariz afilado do Sabino. (...) Fareja, fareja, hesita..."
(Miguel Torga - conto "Fronteira") em que Sabino é um homem e não um animal, deve considerar-se que figura de estilo? Não é personificação, será animismo? No mesmo conto encontrei a expressão "em seco e peco". O que quer dizer?
Relativamente à primeira dúvida, se retomarmos o contexto dos extractos que
refere do conto “Fronteira” (Miguel Torga, Novos Contos da Montanha, 7ª ed.,
Coimbra: ed. de autor, s. d., pp. 25-36), verificamos que é o próprio Sabino que
fareja. Estamos assim perante uma animalização, isto é, perante a atribuição de
um verbo usualmente associado a um sujeito animal (farejar) a uma pessoa
(Sabino). Este recurso é muito utilizado por Miguel Torga neste conto
para transmitir o instinto de sobrevivência, quase animal, comum às gentes de
Fronteira, maioritariamente contrabandistas, como se pode ver por outras
instâncias de animalização: “vão deslizando da toca” (op. cit., p. 25),
“E aquelas casas na extrema pureza de uma toca humana” (op. cit., p. 29),
“a sua ladradela de mastim zeloso” (op. cit., p. 30), “instinto de
castro-laboreiro” (op. cit., p. 31), “o seu ouvido de cão da noite” (op.
cit., p. 33).
Quanto à segunda dúvida, mais uma vez é preciso retomar o contexto: “Já com
Isabel fechada na pobreza da tarimba, esperou ainda o milagre de a sua
obstinação acabar em tecidos, em seco e peco contrabando posto a nu” (op.
cit. p.35). Trata-se de uma coocorrência privilegiada, resultante de um jogo
estilístico fonético (a par do que acontece com
velho e
relho), que corresponde a uma dupla adjectivação pré-nominal, em que o
adjectivo
seco
e o adjectivo
peco
qualificam o substantivo contrabando, como se verifica pela seguinte
inversão: em contrabando seco e peco posto a nu. O que se pretende
dizer é que o contrabando, composto de tecidos, seria murcho e enfezado.