No programa de hoje da R.T.P. " Bom Dia Portugal" na rubrica "Em bom português", questiona-se se deve dizer:
duzentas gramas ou duzentos gramas?
Afirma-se que a resposta correcta é: "duzentos gramas" porque grama é um submúltiplo do quilograma.
Ora, eu tenho apenas a quarta classe do ensino primário de 1951, mas nesse tempo aprendi que grama, metro, caloria, etc. são unidades e quilograma, quilómetro, quilocaloria, etc, são múltiplos com mil unidades.
Como gosto de falar o melhor Português, (dentro das minhas limitações literárias) gostaria de obter uma explicação, mais convincente ou de saber se, pela mesma razão, deve dizer-se "duzentos calorias"?
De facto, o argumento referido é pouco claro. O motivo por que a resposta é "duzentos gramas" é porque
grama, enquanto unidade de medida, é um substantivo masculino, como pode verificar seguindo a hiperligação para o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa. É por essa razão que quilograma, formado pela junção do prefixo quilo- ao substantivo grama, é masculino, e não o contrário.
Queria perguntar-vos sobre a utilização de em ou no/na antes de nos referirmos a lugares. Porque dizemos no Porto mas não na Lisboa? Porque tanto
se diz na França como em França? Existe
alguma regra para a utilização ou não de artigo definido (e respectivas
contracções) quando nos queremos referir a um local? Por exemplo: porquê dizer
fui ao Funchal e não fui a Funchal?
O uso de artigos definidos (o, a os, as) antes de topónimos (isto é, nomes próprios que
designam lugares geográficos) não corresponde a uma regra rígida na língua
portuguesa. As indicações dadas por gramáticas e prontuários são em geral
fluidas e por vezes contraditórias, pelo que as respostas a questões
relacionadas com este assunto raramente podem ser peremptórias.
Na Nova Gramática
do Português Contemporâneo, de Celso CUNHA e Lindley CINTRA (Lisboa, Edições
João Sá da Costa, 14.ª ed., 1998, pp. 228-231), são elencadas algumas indicações
para o uso ou não do artigo definido com nomes geográficos.
Preconiza-se
nomeadamente o uso de artigo antes de nomes de “países, regiões, continentes,
montanhas, vulcões, desertos, constelações, rios, lagos, oceanos, mares e grupos
de ilhas” (ex.: a Suíça, a Escandinávia, a Europa, o Pico, o Etna, o
Sara, o Centauro, o Guadiana, o Tanganica, o Índico, o Adriático, as Baleares),
mas facilmente um falante se lembrará de muitos contra-exemplos para estas
indicações (a própria gramática lista alguns deles: Portugal, Angola,
Moçambique, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Macau, Timor, Andorra, Israel, São
Salvador, Aragão, Castela, Leão).
Do mesmo modo se indica que não se usa
geralmente o artigo definido “com os nomes de cidades, de localidades e da
maioria das ilhas”, mas logo se apresentam contra-exemplos, nomeadamente os
casos de nomes de cidades e localidades que derivam de um substantivo comum (a
Guarda, o Porto, o Rio de Janeiro, a Figueira da Foz).
Estas indicações
gerais são úteis e correspondem provavelmente à maioria dos casos, mas os muitos
casos que as contrariam (é significativa a lista de excepções ou contra-exemplos
que as gramáticas apresentam) tornam a decisão de empregar ou não o artigo quase
dependente de cada topónimo e da experiência linguística do falante.
Há ainda
casos de topónimos como Espanha, França, Itália, Inglaterra ou Chipre em que é
oscilante o uso ou não de artigo (ex.: foi viver para (a) Espanha).
O topónimo Funchal é usado sobretudo precedido de artigo (ex.: viajo amanhã para o Funchal; estou no
[= em + o] Funchal; vou ao [= a + o] Funchal) e poderá
incluir-se na categoria de nomes de cidades ou localidades “que se formaram de
substantivos comuns” (CUNHA e CINTRA, p. 230).