Tenho algumas dúvidas relativamente à posição do pronome nas seguintes estruturas gramaticais, deve dizer-se: a) gostava de o ver ou gostava de vê-lo; b) tenho o prazer de o convidar ou tenho o prazer de convidá-lo?
Nas frases
apontadas, ambas as hipóteses podem ser utilizadas e nenhuma delas é considerada
incorrecta. Nas hipóteses gostava de vê-lo e tenho o
prazer de convidá-lo, o pronome átono o ocupa a
sua posição canónica, à direita do verbo de que depende (ver e
convidar, respectivamente), mas, na colocação dos clíticos, as preposições
provocam geralmente a próclise, isto é, a atracção do clítico para antes do
verbo (gostava de o ver e tenho o prazer de
o convidar). Esta colocação proclítica é, no entanto,
obrigatória quando o verbo está no infinitivo flexionado (ex.: Empresto-te o
livro, mas é para o leres com atenção; Ele
indignou-se por lhe omitirmos informação; e
nunca *Empresto-te o livro, mas é para lere-lo com atenção;
*Ele indignou-se por omitirmos-lhe informação; o
asterisco indica agramaticalidade).
A descrição feita
acima não se aplica à preposição a, com a qual não há geralmente atracção do
clítico (ex.: Eles estavam a insultar-se; Aconselhei as
crianças a reconciliarem-se; e não *Eles estavam a
se insultar; Aconselhei as crianças a se
reconciliarem), senão em registos dialectais do português europeu e, mais frequentemente, no português do Brasil.
Queria perguntar-vos sobre a utilização de em ou no/na antes de nos referirmos a lugares. Porque dizemos no Porto mas não na Lisboa? Porque tanto
se diz na França como em França? Existe
alguma regra para a utilização ou não de artigo definido (e respectivas
contracções) quando nos queremos referir a um local? Por exemplo: porquê dizer
fui ao Funchal e não fui a Funchal?
O uso de artigos definidos (o, a os, as) antes de topónimos (isto é, nomes próprios que
designam lugares geográficos) não corresponde a uma regra rígida na língua
portuguesa. As indicações dadas por gramáticas e prontuários são em geral
fluidas e por vezes contraditórias, pelo que as respostas a questões
relacionadas com este assunto raramente podem ser peremptórias.
Na Nova Gramática
do Português Contemporâneo, de Celso CUNHA e Lindley CINTRA (Lisboa, Edições
João Sá da Costa, 14.ª ed., 1998, pp. 228-231), são elencadas algumas indicações
para o uso ou não do artigo definido com nomes geográficos.
Preconiza-se
nomeadamente o uso de artigo antes de nomes de “países, regiões, continentes,
montanhas, vulcões, desertos, constelações, rios, lagos, oceanos, mares e grupos
de ilhas” (ex.: a Suíça, a Escandinávia, a Europa, o Pico, o Etna, o
Sara, o Centauro, o Guadiana, o Tanganica, o Índico, o Adriático, as Baleares),
mas facilmente um falante se lembrará de muitos contra-exemplos para estas
indicações (a própria gramática lista alguns deles: Portugal, Angola,
Moçambique, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Macau, Timor, Andorra, Israel, São
Salvador, Aragão, Castela, Leão).
Do mesmo modo se indica que não se usa
geralmente o artigo definido “com os nomes de cidades, de localidades e da
maioria das ilhas”, mas logo se apresentam contra-exemplos, nomeadamente os
casos de nomes de cidades e localidades que derivam de um substantivo comum (a
Guarda, o Porto, o Rio de Janeiro, a Figueira da Foz).
Estas indicações
gerais são úteis e correspondem provavelmente à maioria dos casos, mas os muitos
casos que as contrariam (é significativa a lista de excepções ou contra-exemplos
que as gramáticas apresentam) tornam a decisão de empregar ou não o artigo quase
dependente de cada topónimo e da experiência linguística do falante.
Há ainda
casos de topónimos como Espanha, França, Itália, Inglaterra ou Chipre em que é
oscilante o uso ou não de artigo (ex.: foi viver para (a) Espanha).
O topónimo Funchal é usado sobretudo precedido de artigo (ex.: viajo amanhã para o Funchal; estou no
[= em + o] Funchal; vou ao [= a + o] Funchal) e poderá
incluir-se na categoria de nomes de cidades ou localidades “que se formaram de
substantivos comuns” (CUNHA e CINTRA, p. 230).