Posso utilizar a expressão e/ou em um texto formal? Se não, como escrevê-la? Posso escrever e ou ou e, ou?
As palavras e
e ou são conjunções coordenativas, isto é, relacionam termos que
podem ter a mesma função na frase (ex.: vou comprar umas calças azuis e
brancas; vou comprar umas calças azuis ou brancas), sendo que
a conjunção e indica adição (ex.: calças azuis e brancas)
e a conjunção ou indica alternativa (ex.: calças azuis ou
brancas).
A expressão e/ou é utilizada para exprimir de maneira económica e clara
três hipóteses, duas delas contidas numa alternativa (uma coisa ou
outra) e a outra contida numa adição (uma coisa e outra). Por
exemplo, numa frase como todos os utilizadores têm o direito de
rectificação e/ou eliminação dos seus dados pessoais, o texto
destacado indica que é possível 1) a rectificação dos seus dados pessoais, 2) a
eliminação dos seus dados pessoais, 3) a rectificação dos seus dados pessoais e
a eliminação dos seus dados pessoais. Os pontos 1) e 2) estão contidos na
alternativa com ou e o ponto 3) está contido na adição com e.
Não há qualquer motivo para a não utilização desta expressão num texto formal. A
barra indica opcionalidade entre o e e o ou:
rectificação e/ou eliminação dos seus dados pessoais = rectificação e eliminação dos seus dados pessoais / rectificaçãooueliminação dos seus dados pessoais.
Dever-se-á escrever "A presença e a opinião dos pais é importante." ou "A presença e a opinião dos pais são importantes."?
Em português, regra geral, o sujeito composto por uma estrutura coordenada do
tipo que refere (sintagma nominal “e” sintagma nominal) implica
concordância verbal no plural, pois remete geralmente para um conjunto de
entidades. Por essa razão, a frase “A presençaea opinião
dos paissão importantes” está correcta.
No entanto, dado que a concordância com verbos copulativos (sobre este assunto,
pode consultar também a resposta
verbo predicativo ser) e com constituintes coordenados é uma área
problemática em português, muitos falantes considerarão a frase “A
presença e a opinião dos paisé importante” como gramatical. Isto acontece
provavelmente devido à proximidade de um componente singular do sujeito composto
junto do verbo (“a opinião dos pais é importante”) ou por um fenómeno de
concordância lógica motivado por uma unidade semântica (“uma acção [que
engloba a presença e a opinião] dos pais é importante”). Este último
argumento é facilmente perceptível se eliminarmos o constituinte “dos pais”,
que levará a maioria dos falantes a aceitar apenas a concordância no plural (“A
presença e a opinião são importantes” por oposição a “*A presença e a
opinião é importante” [o asterisco indica agramaticalidade]).
Resumindo, pode dizer-se que existe uma regra geral, a da concordância do
sujeito composto com o plural, que, neste caso, não impede a aceitabilidade de
concordância no singular. Note-se que esta é uma área onde os juízos de
gramaticalidade de falantes e gramáticos variam, muitas vezes por razões de
interpretação semântica. Em qualquer caso, a frase “A presença e a opinião
dos pais são importantes” nunca poderá ser considerada incorrecta, enquanto
a construção “A presença e a opinião dos pais é importante” poderá ser
polémica ou discutível.