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Dúvidas linguísticas
grafia de Bielorrússia
Qual é a ortografia correcta para esta antiga república soviética:
Bielorússia
,
Bielorrússia
ou
Bielorúsia
?
Das três hipóteses apresentadas, a forma correcta é
Bielo
rr
ú
ss
ia
, pois as consoantes duplas
-rr-
e
-ss-
são, em contexto intervocálico, a grafia que se adequa à pronúncia
Bielo[R]ú[s]ia
.
Relativamente a este topónimo, ou ao seu gentílico (
bielorrusso
, como poderá verificar no
Dicionário Priberam
), pode eventualmente colocar-se ainda o problema da divergência na grafia entre a norma portuguesa e a norma brasileira do português, uma vez que a tradição lexicográfica registava formas diferentes:
Bielorrússia
e
bielorrusso
na norma portuguesa e
Bielo-Rússia
e
bielo-russo
na norma brasileira até à publicação do
Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa
(VOLP) da Academia Brasileira de Letras, em 2009. Saliente-se que esta foi uma opção da publicação do VOLP e não da aplicação do Acordo Ortográfico e 1990, que é omisso nesta matéria.
Adicionalmente, deve referir-se que nos meios de comunicação brasileiros é maioritário o uso do topónimo
Belarus
, em vez de
Bielorrússia
, ainda que seja maioritário o uso do gentílico
bielorrusso
, em detrimento do gentílico
belarusso
(registado apenas no Dicionário Houaiss).
escoteiro ou escuteiro? escotista ou escutista?
Tenho assistido a várias discussões sobre as palavras escoteiro/escuteiro e sobre escotismo/escutismo e gostaria de uma explicação linguística. São sinónimos ou são coisas diferentes?
Relativamente ao uso geral da língua, as palavras
escoteiro
/
escuteiro
e
escotismo
/
escutismo
correspondem a dois pares de sinónimos, a que se podem juntar outros pares como
escotista
/
escutista
ou
escoteirismo
/
escuteirismo
. Qualquer delas está correcta ortograficamente e pode dizer-se que são pares de variantes gráficas homófonas.
A discussão que se gera à volta delas decorre essencialmente do registo lexicográfico destas palavras (ou da ausência dele) ou de visões ligeiramente diferentes do chamado movimento escutista (ou escotista).
Para compreendermos melhor os argumentos utilizados, é necessário fazer alguma pesquisa, não tanto linguística, mas acerca da história do próprio movimento escutista em Portugal, que permita perceber o motivo da existência destas variantes (no Brasil, o problema não se coloca, pois as variantes com
-u-
são consideradas lusismos). Para isso, é esclarecedora a breve nota a que podemos aceder no sítio da
Associação de Escoteiros de Portugal
, que nos apresenta brevemente a história do movimento, salientando que esta foi a primeira associação de Portugal que utilizou a palavra
escoteiro
, já existente na língua e com o significado de "pessoa que viaja sem bagagem", para traduzir o inglês
scout
. Só mais tarde apareceu o Corpo Nacional de Escutas, movimento católico que assumiu uma dimensão maior e que, para a tradução de
scout
, utilizou a palavra
escuta
(de que depois derivaram
escuteiro
e
escutista
), já existente na língua como derivado regressivo do verbo
escutar
.
Sem ter a pretensão de fazer um levantamento exaustivo na lexicografia portuguesa, podemos verificar no
Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa
de José Pedro Machado que a palavra
escoteiro
está documentada na língua desde o séc. XVI em
Lendas da Índia
por Gaspar Correia, publicadas pela Ordem da Classe de Ciências Morais, Políticas e Belas Letras da Academia Real das Ciências de Lisboa, sob a direcção de Rodrigo José de Lima Felner, 1858: "
…tudo puderam bem carregar, ficando os homens escoteiros e despejados para andar o caminho
". O registo da acepção que diz respeito aos membros de movimentos semelhantes àquele que foi criado por Baden-Powell é bem mais recente.
Rebelo Gonçalves, no seu
Vocabulário da Língua Portuguesa
(Coimbra: Coimbra Editora, 1966), referência importante para a lexicografia portuguesa, considera
escoteiro, escotismo
e
escotista
como variantes brasileiras de
escuteiro, escutismo
e
escutista
, respectivamente. Nesta opção, segue o que está no
Vocabulário Ortográfico Resumido da Língua Portuguesa
, da Academia das Ciências de Lisboa (Lisboa: Imprensa Nacional de Lisboa, 1947).
Também o dicionário de Cândido de Figueiredo regista
escoteiro
como brasileirismo, na acepção que aqui nos interessa e as formas
escuta
e
escuteiro
como as preferenciais em Portugal. De notar que estamos a falar da edição coordenada por Rui Guedes (25.ª ed., 1996), pois em edições antigas, nomeadamente na edição de 1913, por exemplo, apenas consta a entrada
escoteiro
, com a acepção "aquele que viaja sem bagagem".
José Pedro Machado, nas várias edições do
Grande Dicionário da Língua Portuguesa
(por exemplo, Lisboa: Amigos do Livro, 1981 e Lisboa: Círculo de Leitores, 1991), outra grande referência na lexicografia portuguesa, regista também
escuteiro
(assinalando neste verbete, que "No Brasil, usa-se a forma
escoteiro
"),
escutismo
e
escutista
(nestes dois últimos verbetes, confrontando com as formas em
-o-
para avisar o consulente de que se trata de verbetes diferentes, não sinónimos). Curiosamente, não regista
escuteirismo
, mas sim
escoteirismo
, definindo-o de maneira bastante abrangente, de modo a incluir o movimento idealizado por Baden-Powell e qualquer movimento organizado em moldes semelhantes. Por outro lado, se no verbete
escuteiro
este dicionário assinala a forma
escoteiro
como brasileira, no verbete
escoteiro
, com o sentido sobre os qual nos debruçamos, não tem qualquer indicação de que se trata de brasileirismo, estando o verbete
escoteiro
definido, com etimologia e sem qualquer registo geográfico (o mesmo acontece com
escotismo
, que remete para
escoteirismo
).
O
Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia das Ciências de Lisboa
(Lisboa: Verbo, 2001), por sua vez, parece ser o primeiro a registar os vários pares de variantes gráficas, sem distinguir registos de língua pertinentes. Neste sentido apresenta a definição nas formas com
-u-
, por serem mais usuais, e uma remissão nas formas com
-o-
.
Por motivos diversos, quer etimológicos, quer históricos, estes pares de palavras surgiram na língua, à semelhança de muitos outros casos de variação, e podem ser considerados sinónimos, sem que haja motivo para considerar uma ou outra forma mais correcta do que outra. Adicionalmente, e sobretudo entre os membros ou simpatizantes do movimento escotista/escutista em Portugal, a distinção
escoteiro
ou
escuteiro
permite também distinguir, respectivamente, entre os membros da Associação de Escoteiros de Portugal (de cariz interconfessional) e os membros, bem mais numerosos, do Corpo Nacional de Escutas (de cariz católico e estruturado numa relação directa com as dioceses).
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Palavra do dia
estromaturgia
estromaturgia
(
es·tro·ma·tur·gi·a
es·tro·ma·tur·gi·a
)
Arte de fabricar tapetes.
nome feminino
Arte de fabricar tapetes.
Origem etimológica:
grego
strôma, -atos
, o que se estende, leito, manta, tapete +
-urgia
.