Uma professora minha disse que nunca se podia colocar uma vírgula entre o sujeito e o verbo. É verdade?
Sobre o uso da vírgula em geral, por favor consulte a dúvida
vírgula antes da conjunção e. Especificamente sobre a questão colocada,
de facto, a indicação de que não se pode colocar
uma vírgula entre o sujeito e o verbo é verdadeira. O uso da vírgula, como o da
pontuação em geral, é complexo, pois está intimamente ligado à decomposição
sintáctica, lógica e discursiva das frases. Do ponto de vista lógico e
sintáctico, não há qualquer motivo para separar o sujeito do seu predicado (ex.:
*o rapaz [SUJEITO], comeu [PREDICADO]; *as
pessoas que estiveram na exposição [SUJEITO],
gostaram muito [PREDICADO]; o asterisco indica agramaticalidade).
Da mesma forma, o verbo não deverá ser separado dos complementos obrigatórios
que selecciona (ex.: *a casa é [Verbo], bonita [PREDICATIVO
DO SUJEITO]; *o rapaz comeu [Verbo], bolachas
e biscoitos [COMPLEMENTO DIRECTO]; *as pessoas gostaram
[Verbo], da exposição [COMPLEMENTO
INDIRECTO]; *as crianças ficaram [Verbo],
no parque [COMPLEMENTO ADVERBIAL OBRIGATÓRIO]). Pela mesma
lógica, o mesmo se aplica aos complementos seleccionados por substantivos (ex.
* foi a casa, dos avós), por adjectivos (ex.: *estava
impaciente, por sair) ou por advérbios (*lava as mãos antes,
das refeições), que não deverão ser separados por vírgula da palavra que os
selecciona.
Há, no entanto, alguns contextos em que pode haver entre o sujeito e o verbo uma estrutura sintáctica separada por vírgulas, mas apenas no caso de essa estrutura poder ser isolada por uma vírgula no início e no fim. Estes são normalmente os
casos de adjuntos nominais (ex.: o rapaz, menino muito magro, comeu muito),
adjuntos adverbiais (ex.: o rapaz, como habitualmente, comeu muito),
orações subordinadas adverbiais (ex.: as pessoas que estiveram na exposição,
apesar das más condições, gostaram muito), orações subordinadas relativas explicativas (ex.: o rapaz, que até não tinha fome,
comeu muito).
O uso da palavra empoderamento como tradução para empowerment é correto, ou trata-se de neologismo? A palavra apoderamento tem o sentido reflexivo do verbo apoderar-se, que não encontramos no verbo to empower e seu significado. Qual o melhor termo para traduzir a expressão do inglês, para a qual encontrei o sentido de investir de poder ou autoridade legal; suprir com uma habilidade, habilitar?
O substantivo
apoderamento parece realmente distinto de
empoderamento, já que é
a acção de se apoderar, de tomar posse.
Pesquisas feitas em corpora e em motores de busca da Internet em língua
portuguesa revelam que o uso de empoderamento, adaptação do inglês
empowerment, é já bastante generalizado, razão que pode ter estado na origem
da inclusão do termo no Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea
(Lisboa: Academia das Ciências/Verbo, 2001), onde é definido como "obtenção,
alargamento ou reforço de poder". Este neologismo, cuja formação respeita as
regras morfológicas da língua portuguesa, refere-se maioritariamente ao aumento
da força política, social ou económica de grupos alvo de discriminação (étnica,
religiosa, sexual ou outra). Na esfera individual, refere-se ao desenvolvimento
das capacidades de um indivíduo, à sua realização pessoal.
Quanto ao verbo inglês to empower (cuja adaptação dá origem ao verbo
empoderar), para além dos sentidos de "autorizar"
e de "proporcionar", ele também significa "promover a afirmação ou a
influência", segundo o dicionário inglês
Merriam-Webster Online. Novamente, pesquisas em corpora e em motores de busca atestam a
utilização de diversas formas do verbo empoderar.