Colibri
diz-se: Culibri? ou Colibri (com o som do -o- aberto)? Li
que a sílaba acentuada é a última? Sendo aguda, que som tem a sílaba Co-? E
porquê, ou seja qual é a regra para a pronunciação desta palavra?
Na questão colocada,
está em causa a qualidade da vogal de uma sílaba átona, e não a sua acentuação
(a palavra é sempre acentuada na última sílaba: colibri).
A letra o pode corresponder ao som [o], como em avô
ou dor, ao som [ɔ], como em avó ou corda,
ou ao som [u], como em comida ou carro.
No português
europeu, como regra geral (com muitas excepções), as vogais que não pertencem a
uma sílaba tónica são elevadas. Por exemplo, no caso da vogal o das
palavras corda e cordão, o som [ɔ]
(vogal mais baixa) da palavra corda (com acento tónico em
cor) passa a pronunciar-se [u] (vogal mais alta) em cordão
pois a sílaba tónica passou a ser a última cordão. Esta
regra geral pode aplicar-se a colibri (como a sílaba tónica é bri,
a sílaba co- pode pronunciar-se [ku]), mas no caso desta palavra, há
informação lexical, isto é, relativa à própria palavra e não às regras mais
gerais da língua, que faz com que, por motivos etimológicos ou outros, a maioria
dos falantes pronuncie [kɔ]libri. Esta é então também a pronúncia registada
no Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia da
Ciências/Verbo e, posteriormente, no Grande Dicionário Língua Portuguesa,
da Porto Editora.
Das seguintes, que forma está correcta?
a) Noventa por cento dos professores manifestaram-se.
b) Noventa por cento dos professores manifestou-se.
A questão que nos coloca não tem uma resposta peremptória, originando muitas vezes dúvidas quer nos falantes quer nos gramáticos que analisam este tipo de estruturas.
João Andrade Peres e Telmo Móia, na sua obra Áreas Críticas da Língua Portuguesa (Lisboa, Editorial Caminho, 1995, pp. 484-488), dedicam-se, no capítulo que diz respeito aos problemas de concordância com sujeitos de estrutura de quantificação complexa, à análise destes casos com a expressão n por cento seguida de um nome plural. Segundo eles, nestes casos em que se trata de um numeral plural (ex.: noventa) e um nome encaixado também plural (professores), a concordância deverá ser feita no plural (ex.: noventa por cento dos professores manifestaram-se), apesar de referirem que há a tendência de alguns falantes para a concordância no singular (ex.: noventa por cento dos professores manifestou-se). Nos casos em que a expressão numeral se encontra no singular, a concordância poderá ser realizada no singular (ex.: um por cento dos professores manifestou-se) ou no plural, com o núcleo nominal encaixado (ex.: um por cento dos professores manifestaram-se). Há, no entanto, casos, como indicam os mesmos autores, em que a alternância desta concordância não é de todo possível, sendo apenas correcta a concordância com o núcleo nominal que segue a expressão percentual (ex.: dez por cento do parque ardeu, mas não *dez por cento do parque arderam).
Face a esta problemática, o mais aconselhável será talvez realizar a concordância com o nome que se segue à expressão "por cento", visto que deste modo nunca incorrerá em erro (ex.: noventa por cento dos professores manifestaram-se, um por cento dos professores manifestaram-se, dez por cento da turma reprovou no exame, vinte por cento da floresta ardeu). De acordo com Evanildo Bechara, na sua Moderna Gramática Portuguesa (Rio de Janeiro: Editora Lucerna, 2002, p. 566), esta será também a tendência mais comum dos falantes de língua portuguesa.