Colibri
diz-se: Culibri? ou Colibri (com o som do -o- aberto)? Li
que a sílaba acentuada é a última? Sendo aguda, que som tem a sílaba Co-? E
porquê, ou seja qual é a regra para a pronunciação desta palavra?
Na questão colocada,
está em causa a qualidade da vogal de uma sílaba átona, e não a sua acentuação
(a palavra é sempre acentuada na última sílaba: colibri).
A letra o pode corresponder ao som [o], como em avô
ou dor, ao som [ɔ], como em avó ou corda,
ou ao som [u], como em comida ou carro.
No português
europeu, como regra geral (com muitas excepções), as vogais que não pertencem a
uma sílaba tónica são elevadas. Por exemplo, no caso da vogal o das
palavras corda e cordão, o som [ɔ]
(vogal mais baixa) da palavra corda (com acento tónico em
cor) passa a pronunciar-se [u] (vogal mais alta) em cordão
pois a sílaba tónica passou a ser a última cordão. Esta
regra geral pode aplicar-se a colibri (como a sílaba tónica é bri,
a sílaba co- pode pronunciar-se [ku]), mas no caso desta palavra, há
informação lexical, isto é, relativa à própria palavra e não às regras mais
gerais da língua, que faz com que, por motivos etimológicos ou outros, a maioria
dos falantes pronuncie [kɔ]libri. Esta é então também a pronúncia registada
no Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia da
Ciências/Verbo e, posteriormente, no Grande Dicionário Língua Portuguesa,
da Porto Editora. Última crónica de António Lobo Antunes na Visão "Aguentar à bronca", disponível online.
1.º Parágrafo: "Ficaram por ali um bocado no passeio, a conversarem, aborrecidas por os homens repararem menos nelas do que desejavam.";
2.º Parágrafo: "nunca imaginei ser possível existirem cigarros friorentos, nunca os tinha visto, claro, mas aí estão eles, a tremerem. Ou são os dedos que tremem?".
Dúvidas: a conversarem ou a conversar? A tremerem ou a tremer? O uso do infinitivo flexionado (ou pessoal) e do infinitivo não flexionado
(ou impessoal) é uma questão controversa da língua portuguesa, sendo mais
adequado falar de tendências do que de regras, uma vez que estas nem sempre
podem ser aplicadas rigidamente (cf. Celso CUNHA e Lindley CINTRA, Nova
Gramática do Português Contemporâneo, Lisboa: Edições Sá da Costa, 1998, p.
482). É também por essa razão que dúvidas como esta são muito frequentes e as
respostas raramente podem ser peremptórias.
Em ambas as frases que refere as construções com o infinitivo flexionado são
precedidas pela preposição a e estão delimitadas por pontuação. Uma das
interpretações possíveis é que se trata de uma oração reduzida de infinitivo,
com valor adjectivo explicativo, à semelhança de uma oração gerundiva (ex.:
Ficaram por ali um bocado no passeio, a conversarem, aborrecidas
[...] =
Ficaram por ali um bocado no passeio, conversando, aborrecidas [...];
nunca imaginei ser possível existirem cigarros friorentos [...] mas aí
estão eles, a tremerem. = nunca imaginei ser possível existirem
cigarros friorentos [...] mas aí estão eles, tremendo.). Nesse caso,
não há uma regra específica e verifica-se uma oscilação no uso do infinitivo
flexionado ou não flexionado.
No entanto, se estas construções não estivessem separadas por pontuação do resto
da frase, não tivessem valor adjectival e fizessem parte de uma locução verbal,
seria obrigatório o uso da forma não flexionada: Ficaram por ali um bocado no
passeio a conversar, aborrecidas [...] = Ficaram a conversar
por ali um bocado no passeio, aborrecidas [...]; nunca imaginei ser possível
existirem cigarros friorentos [...] nunca os tinha visto, claro, mas aí
estão eles a tremer. = nunca imaginei ser possível existirem
cigarros friorentos [...] nunca os tinha visto, claro, mas eles aí estão a
tremer. Neste caso, a forma flexionada do infinitivo pode ser
classificada como agramatical (ex.: *ficaram a conversarem, *estão a tremerem [o
asterisco indica agramaticalidade]), uma vez que as marcas de flexão em pessoa e
número já estão no verbo auxiliar ou semiauxiliar (no caso, estar e
ficar).