Procuro uma expressão que designe um local com múltiplas actividades (loja,
museu, biblioteca, restaurante, etc; mecânica, pintura, manutenção,
parqueamento, etc. de barcos) relacionadas com o mar. Pensei nas expressões complexo náutico, centro náutico, complexo naval e centro naval. Poderão elucidar-me qual o significado, etimologia e distinção dos termos náutico e naval? E qual a distinção, significado, etimologia e sinónimos dos termos centro e complexo, na acepção pretendida? Poderão ainda sugerir a designação mais própria para um local daquele género?
Ambos os adjectivos que refere podem ser utilizados para referir realidades
que estejam relacionadas, não directamente com o mar (para tal existem os
adjectivos marinho ou marítimo), mas com a navegação. O adjectivo
náutico deriva do latim nauticus e naval do latim
navalis. São palavras sinónimas: ambas se referem a tudo que o que está
relacionado com a navegação, apesar de naval se referir especificamente
numa das suas acepções à marinha de guerra. Nos contextos que refere, podem ser
usadas quase indistintamente, apesar de o termo naval poder induzir em
erro, pois é possível que tenha como referente imediato a marinha de guerra e
não qualquer tipo de navegação.
Um centro (do latim centrum) pode ser um local onde se encontram
actividades do mesmo género, tendo como sinónimos núcleo e agrupamento;
complexo (do latim complexus) pode ser um conjunto de construções ou
edifícios que estão coordenados entre si.
Pelo que foi exposto, parece-nos que a melhor solução será centro náutico,
uma vez que se pretende focalizar sobretudo o facto de ser um local que engloba
diversas actividades relacionadas com a navegação e com embarcações.
Escrevo-lhes da Galiza, depois de ter procurado o significado da palavra "galego" no dicionário Priberam. Encontrei uma definição que considero desrespeitosa, e ainda mais na actualidade.
Tenham em conta que como cidadãos da Galiza (espanhola ou portuguesa) e utentes da língua comum galego-portuguesa consideramos de muito mau gosto que
persistam nos seus dicionários definições de 150 anos atrás que nada têm a ver com que significa ser Galego
ou Galega na actualidade.Agradecia muito que mudassem o conteúdo dessa definição mais ofensivo para os cidadãos galegos.
A função de um dicionário passa por uma descrição dos usos da
língua, devendo basear-se essencialmente em factos linguísticos e não
estabelecer juízos de valor relativamente a eles, antes
apresentá-los o mais objectivamente possível. Em relação às definições da
palavra galego,
o Dicionário Priberam da Língua
Portuguesa (DPLP) veicula o significado que ela apresenta na língua,
mesmo que alguns dos seus significados possam revelar o preconceito ou a
discriminação presentes no uso da língua.
As acepções que considera injuriosas têm curso actualmente em Portugal (como se pode verificar através de pesquisa em corpora e em motores de busca na internet), sendo
usadas em registos informais e com intenções pejorativas, estando registadas,
para além do DPLP, nas principais obras lexicográficas de língua portuguesa,
como o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea (Academia das
Ciências de Lisboa/Verbo, 2001) ou o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa
(edição brasileira da Editora Objetiva, 2001; edição portuguesa do Círculo de
Leitores, 2002). O DPLP não pode omitir ou branquear determinados significados,
independentemente das convicções de cada lexicógrafo ou utilizador do
dicionário.
Como acontece com qualquer palavra, o uso destas acepções de galego decorre da
selecção feita pelo utilizador da língua, consoante o registo de língua e o
conhecimento das situações de comunicação e dos códigos de conduta social. O
preconceito não pode ser imputado ao dicionário, que se deve limitar a registar
o uso (daí as indicações de registo informal [Infrm.] e depreciativo
[Deprec.]). Este não é, na língua portuguesa ou em qualquer outra língua, um
caso único, pois as línguas, enquanto sistemas de comunicação, veiculam também
os preconceitos da cultura em que se inserem.
Esta reflexão também se aplica a outros exemplos, como o uso dos chamados
palavrões, ou tabuísmos, cuja utilização em determinadas situações é considerada
altamente reprovável, ou ainda de palavras que têm acepções depreciativas no que
se refere a distinções sexuais, religiosas, étnicas, etc.