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Dúvidas linguísticas


Qual o feminino de capataz? Isto porque tenho ouvido a palavra capataza quando se trata de uma mulher.
Por tradição lexicográfica, a palavra capataz vem registada em dicionários e vocabulários apenas como substantivo masculino, pelo facto de essa função ter sido ocupada maioritariamente por pessoas do sexo masculino. A forma capataza não surge registada em nenhuma obra de referência para o português. Assim, a palavra capataz poderá ser usada no masculino em relação a um referente de sexo feminino (ex.: Ela é o capataz da quinta) à semelhança de outros nomes em que o género da palavra não é igual ao sexo a que se refere (ex.: Ela é um bom garfo ou Ele é uma melga). Por outro lado, à semelhança do que tem acontecido com muitas profissões que hoje já não são exclusivamente desempenhadas por pessoas de sexo masculino, a palavra poderá ser usada como substantivo masculino e feminino (ex.: Ela é a capataz da quinta), como acontece em espanhol, língua de onde é originária a palavra.



Gostaria de saber se existe alguma regra de fonética para o plural de palavras tais como: fogo, poço, jogo... É que eu fui ensinado a pronunciar: fógos, póços, jógos... ao invés de fôgos, pôços, jôgos... (os acentos estão só como indicadores de fonética). É que recentemente tenho ouvido alguns jornalistas pronunciar estas palavras com entoação "ô"...? Agradecia que me esclarecessem esta dúvida.
Não existe oficialmente nenhuma regra fonética em português que dê conta da alternância vocálica entre o singular e o plural de palavras como fogo, poço, jogo, contorno, despojo, esforço, imposto, ovo, tijolo, troço, etc. Por essa razão, é natural que alguns falantes possam hesitar na pronúncia do plural destes termos.

As gramáticas e os prontuários incluem estas palavras em listas de vocábulos cuja vogal tónica, no singular, é o o fechado /ô/ mas que no plural se transforma em o aberto /ó/, fenómeno tradicionalmente designado por metafonia. Há, no entanto, muitos casos semelhantes em que o singular e o plural mantêm o mesmo o fechado, como por exemplo acordo(s) /ô/, gosto(s) /ô/ ou sopro(s) /ô/ (cf. Nova Gramática do Português Contemporâneo, de Celso Cunha e Lindley Cintra, p. 184). Essas listas nem sempre são consensuais, havendo mesmo divergências entre gramáticos e até entre a norma culta de Portugal e a do Brasil (por exemplo, o plural de almoço pronuncia-se almóços em Portugal mas almôços no Brasil).

Na sua Moderna Gramática Portuguesa (p. 124), Evanildo Bechara afirma que se tem recorrido à etimologia latina desses termos e ao paralelismo com a língua espanhola para desfazer hesitações de pronúncia, mas que tal não esclarece todas as dúvidas. Acresce que esse tipo de informação é opaca para a maioria dos falantes, pelo que a variação resulta de factores de evolução da língua mas também de uso, de analogia e até de hipercorrecção (Gramática do Português, organizada por Eduardo Paiva Raposo, p. 3302).

No artigo "Histórias de O", o linguista Ernesto d'Andrade faz a revisão de vários estudos desta alternância em português e fornece uma análise mais técnica, com base fonológica, deste fenómeno.

O Dicionário Priberam da Língua Portuguesa contém indicações de pronúncia, tanto no singular, quanto no plural dessas palavras.