Tenho algumas dúvidas relativamente à posição do pronome nas seguintes estruturas gramaticais, deve dizer-se: a) gostava de o ver ou gostava de vê-lo; b) tenho o prazer de o convidar ou tenho o prazer de convidá-lo?
Nas frases
apontadas, ambas as hipóteses podem ser utilizadas e nenhuma delas é considerada
incorrecta. Nas hipóteses gostava de vê-lo e tenho o
prazer de convidá-lo, o pronome átono o ocupa a
sua posição canónica, à direita do verbo de que depende (ver e
convidar, respectivamente), mas, na colocação dos clíticos, as preposições
provocam geralmente a próclise, isto é, a atracção do clítico para antes do
verbo (gostava de o ver e tenho o prazer de
o convidar). Esta colocação proclítica é, no entanto,
obrigatória quando o verbo está no infinitivo flexionado (ex.: Empresto-te o
livro, mas é para o leres com atenção; Ele
indignou-se por lhe omitirmos informação; e
nunca *Empresto-te o livro, mas é para lere-lo com atenção;
*Ele indignou-se por omitirmos-lhe informação; o
asterisco indica agramaticalidade).
A descrição feita
acima não se aplica à preposição a, com a qual não há geralmente atracção do
clítico (ex.: Eles estavam a insultar-se; Aconselhei as
crianças a reconciliarem-se; e não *Eles estavam a
se insultar; Aconselhei as crianças a se
reconciliarem), senão em registos dialectais do português europeu e, mais frequentemente, no português do Brasil.
Encontrei uma resposta que passo a transcrever "Na frase Já passava das duas da manhã quando aquele grupo de jovens se encontraram perto do restaurante existe uma locução (aquele grupo de jovens) que corresponde a um sujeito da oração subordinada (quando aquele grupo de jovens se encontraram perto do restaurante) com uma estrutura complexa. Nesta locução, o núcleo do sintagma é grupo, e é com este substantivo que deve concordar o verbo encontrar. Desta forma, a frase correcta seria Já passava das duas da manhã quando aquele grupo de jovens se encontrou perto do restaurante."
Sendo que a frase em questão foi retirada do Campeonato Nacional de Língua Portuguesa, e a frase completa é "Já passava das duas quando aquele grupo de jovens se encontraram perto da discoteca, aonde o Diogo os aguardava". Segundo a vossa resposta, dever-se-ia ter escrito "(...) aquele grupo de jovens se encontrou (...)". Mas se assim for, também seria de considerar "aonde o Diogo os aguardava", pois se consideramos que o sujeito é singular, não faz sentido dizer "os aguardava", mas sim "o aguardava". No entanto, não podemos considerar que existe concordância atractiva em que "deixamos o verbo no singular quando queremos destacar o conjunto como uma unidade. Levamos o verbo ao plural para evidenciarmos os vários elementos que compõem o todo." (Gramática do Português Contemporâneo Cunha/Cintra)? Agradeço elucidação se mantêm a vossa opinião, tendo a frase completa. Já agora, na frase utiliza-se "aonde Diogo os esperava". Não deveria ser "onde"?
A Priberam Informática não pretende responder especificamente a perguntas do
Campeonato Nacional da Língua Portuguesa,
mas apenas a dúvidas linguísticas que lhe são colocadas e que são consideradas
pertinentes, sendo as respostas redigidas tendo em conta a clareza e a concisão
para os utilizadores.
As concordâncias são um caso problemático no português, como deixam claro Telmo
Móia e João Peres no capítulo 7 de Áreas
Críticas do Português (Caminho, 1995), e o caso em questão,
aquele grupo de jovens, parece fazer
parte de um conjunto de expressões formadas por um nome (como
grupo ou conjunto) que, combinado com outro, “permitem referir colecções de objectos,
sem as quantificarem” (Móia e Peres, p. 471). Esta reflexão parece mostrar que
este grupo difere um pouco das expressões partitivas (como
parte, porção ou maioria) que referem Celso Cunha e
Lindley Cintra na Nova Gramática do
Português Contemporâneo (Edições João Sá da Costa, 1998, p. 496). No
entanto, tanto num caso como noutro, a construção mais neutra deveria
corresponder a uma unidade, ao todo, isto é, pegando no texto de Cunha e Cintra
("Deixamos o verbo no singular quando queremos destacar o conjunto como uma
unidade. Levamos o verbo ao plural para evidenciarmos os vários elementos que
compõem o todo."), o plural parece ser uma maneira de modalizar o discurso,
dando-lhe um matiz menos neutro, enfatizando, na unidade, os seus elementos
constituintes. Vemos como estas construções são problemáticas quando comparadas,
por exemplo, com um grupo nominal como carro
das mercadorias, onde não hesitaríamos (ou hesitaríamos menos) em
identificá-lo como uma unidade, com a correspondente flexão do verbo que se lhe
seguisse (O carro das mercadorias
entrou na rua). Por este
motivo reiteramos as nossas observações da resposta
concordâncias (I).
No que diz respeito à concordância do pronome pessoal
os em
Já passava das duas quando aquele grupo de
jovens se encontrou perto da discoteca, onde o Diogo os aguardava,
pode dizer-se que, sendo um pronome pessoal, deve concordar com o seu
antecedente, mas este antecedente não tem necessariamente de ser o sujeito da
frase. Retomando um exemplo acima (O carro
das mercadorias entrou na rua) podemos adaptá-lo a uma construção
afim em que a concordância é possível com qualquer dos antecedentes (O
carro das mercadorias entrou na rua, onde o comerciante as/o aguardava).
São estas concordâncias possíveis com mais de um antecedente que por vezes tornam
as frases ambíguas.
Relativamente à sua questão sobre onde
e aonde, por favor consulte a resposta
onde / aonde.
Sem qualquer crítica ao referido campeonato, podemos no entanto observar que a
maioria das questões problemáticas da língua não se adequa a respostas apenas
com dois valores, como sim/não ou correcto/incorrecto, pois contém uma
complexidade que as ultrapassa.