A locução adverbial
de frente, que poderá encontrar no verbete
frente do Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, significa "de
face", "com a parte dianteira à mostra" (ex.: vira-te de frente para eu te ver
melhor) ou "sem medo" (ex.: olhou os problemas de frente e tentou
resolvê-los). A palavra
fronte, pelo contrário, não forma nenhuma locução de fronte. Por
tradição lexicográfica, é usado o advérbio
defronte (ex.: ele mora neste prédio e o irmão vive defronte), que
significa "em posição frontal" ou "na parte dianteira de algo" e é sinónimo da
locução em frente (ex.: ele mora neste prédio e o irmão vive em frente).
Paralelamente, o advérbio defronte pode ainda formar locuções
preposicionais como defronte a ou defronte de (ex.: o hotel está
defronte ao mar; os estudantes manifestar-se-ão defronte do ministério),
que são sinónimas das locuções à frente de, em frente a e em
frente de (ex.: o hotel está em frente ao/do mar; os estudantes
manifestar-se-ão à frente do ministério).
De facto, é possível
identificar neste vocábulo as palavras distintas que lhe deram origem – os
substantivos ponta e pé – sem que nenhuma delas tenha sido
afectada na sua integridade fonológica (em alguns casos pode haver uma adequação
ortográfica para manter a integridade fonética das palavras simples, como em
girassol, composto de gira + s + sol. Se não houvesse
essa adequação, a palavra seria escrita com um s intervocálico (girasol)
a que corresponderia o som /z/ e as duas palavras simples perderiam a sua
integridade fonética e tratar-se-ia de um composto aglutinado). Daí a
denominação de composto por justaposição, uma vez que as palavras apenas se
encontram colocadas lado a lado, com ou sem hífen (ex.: guarda-chuva, passatempo,
pontapé).
O mesmo não se passa com os compostos por aglutinação, como
pernalta (de perna + alta), por exemplo, cujos elementos se
unem de tal modo que um deles sofre alterações na sua estrutura fonética. No
caso, o acento tónico de perna subordina-se ao de alta, com
consequências, no português europeu, na qualidade vocálica do e, cuja
pronúncia /é/ deixa de ser possível para passar à vogal central fechada
(idêntica à pronúncia do e em se). Note-se ainda que as
palavras compostas por aglutinação nunca se escrevem com hífen.
Sobre este
assunto, poderá ainda consultar o cap. 24 da Gramática da Língua Portuguesa,
de Maria Helena Mira MATEUS, Ana Maria BRITO, Inês DUARTE, Isabel Hub FARIA et
al. (5.ª ed., Editorial Caminho, Lisboa, 2003), especialmente as pp. 979-980.