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floretearia

floreteado | adj.

Que tem ponta aguda como o florete....




Dúvidas linguísticas



Agradeço que me informem porque é que se ouve dizer islamistas e não islamitas?
A utilização da forma islamista pode explicar-se pela regularização derivada da analogia com outros casos de substantivos terminados em -ismo (ex.: abstencionismo, catolicismo, socialismo), aos quais correspondem adjectivos terminados em -ista (ex.: abstencionista, catolicista, socialista). Não se pode considerar que essa forma esteja errada, pois segue as normas de derivação da língua portuguesa, com o sufixo -ista, bastante produtivo na língua, aposto ao substantivo islame, variante menos usada de islão. Trata-se, contudo, de uma forma não consensual e mesmo polémica, tanto em relação ao uso, quanto em relação ao significado, e são poucos os dicionários de língua portuguesa que a registam.

A forma registada pela maioria dos dicionários de português é islamita, palavra derivada da aposição do sufixo -ita (que exprime a noção de origem ou naturalidade) ao substantivo islame. Esta palavra tem no seu significado uma relação com islamismo, que nos dicionários de português é frequentemente sinónimo de islão ou religião islâmica.
É importante referir ainda que vários dicionários que não registam a forma islamista registam no entanto pan-islamista (é o caso, por exemplo, do Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia das Ciências de Lisboa [2001], do Dicionário Houaiss [2002], do Dicionário Aurélio [2010]), não havendo registo de pan-islamita. Fica clara neste derivado a relação -ismo/-ista que é polémica em islamismo/islamista.

Esta problemática não diz respeito apenas ao português, mas é transversal a outras línguas e as soluções lexicográficas encontradas nessas línguas também não são unânimes.

Em relação ao espanhol, veja-se, a título de exemplo a distinção feita no Diccionário de la Léngua Española, da Real Academia Española [consultas em 2015-12-03], entre islamita (muçulmano) e islamista (pertencente ou relativo ao integrismo muçulmano); deve registar-se ainda que islamismo tem a definição relativa apenas ao conjunto de crenças e preceitos morais que constituem a religião de Maomé. O Diccionario de uso del español de América y España (Barcelona: SPES EDITORIAL, 2003 [CD-ROM]) só regista islamita (que professa o islamismo) e islamismo (islão).

Relativamente ao francês, no Trésor de la Langue Française informatisé [consultas em 2015-12-03] apenas surge como entrada o verbete islamite (que é da religião ou civilização islâmica), sendo a forma islamiste indicada como variante. Já Le CD-ROM du Petit Robert (versão 2.1, Dictionnaires Le Robert / VUEF, 2001) regista somente a entrada islamiste, que define apenas como relativo ao islamismo, sendo islamisme quer a religião muçulmana, quer o movimento político e religioso que preconiza a expansão do ou o respeito pelo islão.

Como exemplo para o italiano, o Dizionario Garzanti Linguistica [consultas em 2015-12-03] mostra-nos uma definição de islamista relativa ao islão ou ao islamismo e regista ainda as acepções de estudioso do islamismo ou de assuntos islâmicos e de seguidor ou defensor do islamismo, em particular seguidor do islão tendente ao fundamentalismo. Em islamita, este dicionário apresenta a definição de que ou quem é seguidor do islamismo.

Nos dicionários de língua inglesa será porventura mais fácil encontrar exemplos do registo das formas equivalentes em inglês para islamista, islamita e islamismo com relação com o fundamentalismo islâmico ou, simultaneamente, com o fundamentalismo islâmico e com a religião islâmica, mas raramente se encontra apenas a relação com a religião islâmica [consultas em 2015-12-03]. Veja-se, por exemplo, que islamism aparece registado apenas como movimento fundamentalista islâmico (ver Oxford Dictionaries ou Collins English Dictionary) ou, simultaneamente, como fundamentalismo islâmico e como a religião islâmica (ver The American Heritage ou Merriam-Webster's Online Dictionary).

Os dicionários veiculam frequentemente informações relativas ao uso das palavras, por vezes baseadas em critérios estatísticos (que é cada vez mais o caminho da lexicografia contemporânea), outras vezes baseadas no conhecimento linguístico dos lexicógrafos ou numa combinação de ambos. Como na maioria das questões linguísticas, o problema não se esgota aqui e inclui outras variáveis que têm de ser analisadas ou pelo menos ponderadas para explicar a falta de unanimidade. Neste campo, as respostas peremptórias são normalmente redutoras.

Estudiosos, jornalistas e investigadores de assuntos relacionados com o Islão vêm estabelecendo uma distinção entre islamitas (crentes muçulmanos) e islamistas (integristas ou fundamentalistas muçulmanos) e ainda entre islão (religião e fé) e islamismo (ideologia ou activismo político). Esta distinção, que poderá ter a função de estabelecer conceitos operatórios, tem vingado na comunicação social e na literatura especializada, onde a forma islamista tem curso e grande número de ocorrências.

Seria menos polémico utilizar locuções explicativas como "fundamentalista islâmico", "extremista islâmico", "radical muçulmano" ou semelhantes, em vez de islamista ou islamita, mas é claro que se trata sempre de uma opção do utilizador da língua ou, no caso de órgãos de imprensa ou agências noticiosas, de opções editoriais ou de estilo. Em muitos casos, trata-se ainda da utilização de palavras próximas das formas utilizadas pelas agências noticiosas estrangeiras, nomeadamente em língua inglesa ou francesa.





Acabo de reparar que nas Definições - Acordo Ortográfico de 1990 - Variedade do Português - distinguem-se duas Normas, uma Europeia e outra Brasileira. A minha pergunta é: Porque é que a norma utilizada em PORTUGAL é designada por norma europeia - que eu saiba não existe mais nenhum país na Europa cuja língua oficial seja o Português - quando a norma utilizada no Brasil é designada por norma brasileira e não sul americana?
Vejo isso como uma descriminação em relação ao país onde nasceu a língua portuguesa. Já encontrei na internet entidades, que ganham dinheiro a ensinar a língua portuguesa, a afirmar que o português falado no Brasil é mais puro do que aquele que é falado em Portugal. Duvido que as entidades brasileiras aceitassem de braços caídos que a versão da língua portuguesa que eles falam fosse designada como Norma Sul Americana.
As designações "norma europeia", "português europeu" ou "variedade europeia" não foram criadas pelo Dicionário Priberam, nem constituem qualquer discriminação, antes correspondem a conceitos terminológicos utilizados nos estudos linguísticos e no ensino do português, nomeadamente no que diz respeito à variação geográfica. As designações "europeu" e "de Portugal" ou "português" são consideradas sinónimas no contexto geral em que são usadas, da mesma forma que são usadas as designações "do Brasil" ou "brasileiro", a par de "americano" ou "sul-americano" (ainda que estas duas últimas sejam aparentemente menos utilizadas).

A título de exemplo, podemos destacar quatro casos paradigmáticos deste uso:
  • " Celso Cunha (1917-1989, linguista brasileiro) e Lindley Cintra (1925-1991, linguista português), na Nova Gramática do Português Contemporâneo (7.ª ed., Rio de Janeiro: Lexikon, 2017; 1.ª edição: Lisboa: João Sá da Costa, 1984; Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985), referem as "normas europeia e americana do português" (p. XXIV) e distinguem dentro das variedades do português, os "dialetos do português europeu", dividindo-os em setentrionais, centro-meridionais e galegos (p. 24), a par dos "dialetos das ilhas atlânticas" e dos "dialetos brasileiros".
  • " Na Introdução à Linguística Geral e Portuguesa, de Isabel Hub Faria et al. (Lisboa: Caminho, 1996), no capítulo "Variação linguística", as autoras referem que "o Português está vivo na sua variante europeia e na sua variante sul-americana, por exemplo, cada uma delas divisível em variedades linguísticas menores, numericamente inferiores, que ocupam áreas geográficas mais restritas. No entanto, todas elas partilham um conjunto de traços gramaticais que não difere substancialmente, embora o Português do Brasil tenda a seguir um rumo autónomo, divergente, na sua evolução [...]" (p. 483).
  • " Na Gramática da Língua Portuguesa, de Maria Helena Mira Mateus et al. (Lisboa: Caminho, 2003), Isabel Hub Faria refere que "em línguas com larga história de expansão mundial e de mobilidade dos seus falantes nativos, observa-se a existência de variedades que se vão progressivamente fixando e autonomizando, até ser possível caracterizá-las como variedades locais ou mesmo nacionais. É nessa perspectiva que distinguimos entre a variedade europeia do português que designamos de português europeu (PE) e variedade brasileira do português ou português brasileiro (PB)" (p. 34) [destacado a negro da autora].
  • " O Dicionário Terminológico (consultado em 2020-07-06), ferramenta do Ministério da Educação e Ciência do Governo Português para o ensino básico e secundário do português, refere-se à "variedade europeia do português", a par das "variedades africanas" e da "variedade brasileira".

Esta distinção que usa os adjectivos europeu e americano é usada também em relação a outras línguas, designadamente o espanhol ou o francês. Veja-se, a título de exemplo, as referências ao espanhol europeu no "Prólogo" da Nueva gramática de la lengua española (Madrid: Real Academia Española / Asociación de Academias de la Lengua Española, 2016): "Tiene [...] más sentido [...] mostrar separadas las opciones particulares que pueden proceder de alguna variante, sea del español americano o del europeo. [...] Al igual que se emplea en lingüística la expresión francés europeo (el de Francia, Bélgica y Suiza) para oponerlo al canadiense o al hablado en otras partes del mundo, se adopta el término de español europeo para hacer referencia al hablado en España. Como es obvio, español europeo no equivale a español peninsular, ya que solo el primero incluye los territorios insulares españoles."

As terminologias contribuem para a organização do conhecimento, nomeadamente do conhecimento técnico e científico, e os termos podem ser questionados e revistos, mas cremos que estas designações pretendem ser descritivas e não configuram qualquer juízo de valor sobre as variedades linguísticas.


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