A minha dúvida coloca-se na forma aceite pela língua portuguesa para a designação de "site de Internet". Tenho a breve sensação que se escreve "sítio de Internet". Encontrei também a palavra "sitio" sem o acento no primeiro "i". Por isso decidi escrever pedindo a vossa ajuda. Será "site", "sítio" ou ainda "sitio"?
A questão levantada coloca um problema, recorrente nos utilizadores e nos dicionários de língua
portuguesa, que diz respeito à utilização ou adaptação de estrangeirismos.
O substantivo site é um neologismo com largo curso em português para
designar uma ‘página ou conjunto de páginas disponível na Internet e
acessível através de um computador ou de outro dispositivo electrónico’. Esta palavra já se encontra averbada em vários dicionários de língua portuguesa.
A
utilização da palavra
sítio em substituição do estrangeirismo
site
começa a ser mais usual hoje em dia e, apesar de encontrar ainda alguma
resistência nos falantes, já está registada nos mais recentes dicionários de
português europeu, nomeadamente no Dicionário da Língua Portuguesa
Contemporânea da Academia das Ciências de Lisboa (2001), no Dicionário
Houaiss (2002) e no Grande Dicionário Língua Portuguesa da Porto
Editora (2004); nestes dicionários, a forma site é remissiva para a
acepção de informática da palavra sítio.
Um dos motivos de alguma
resistência dos falantes ao uso de sítio em vez de site é a polissemia desta palavra, que pode gerar
enunciados ambíguos ou pouco claros (ex.: pode encontrar mais informação no
nosso sítio; o sítio foi renovado), o que origina muitas vezes a
necessidade de utilizar a locução sítio da internet (ex.: pode
encontrar mais informação no nosso sítio da internet; o sítio da Internet
foi renovado).
Nenhuma das formas é incorrecta e a escolha de utilização de uma ou outra forma
cabe sempre ao utilizador da língua; no caso de optar pela forma site,
deverá utilizar o itálico como forma de assinalar que se trata de um
estrangeirismo.
O uso da forma sitio (sem acento) em sitio da Internet é um erro ortográfico que deve ser
corrigido, pois sitio corresponde apenas à forma da primeira pessoa do
presente do indicativo do verbo
sitiar. Última crónica de António Lobo Antunes na Visão "Aguentar à bronca", disponível online.
1.º Parágrafo: "Ficaram por ali um bocado no passeio, a conversarem, aborrecidas por os homens repararem menos nelas do que desejavam.";
2.º Parágrafo: "nunca imaginei ser possível existirem cigarros friorentos, nunca os tinha visto, claro, mas aí estão eles, a tremerem. Ou são os dedos que tremem?".
Dúvidas: a conversarem ou a conversar? A tremerem ou a tremer? O uso do infinitivo flexionado (ou pessoal) e do infinitivo não flexionado
(ou impessoal) é uma questão controversa da língua portuguesa, sendo mais
adequado falar de tendências do que de regras, uma vez que estas nem sempre
podem ser aplicadas rigidamente (cf. Celso CUNHA e Lindley CINTRA, Nova
Gramática do Português Contemporâneo, Lisboa: Edições Sá da Costa, 1998, p.
482). É também por essa razão que dúvidas como esta são muito frequentes e as
respostas raramente podem ser peremptórias.
Em ambas as frases que refere as construções com o infinitivo flexionado são
precedidas pela preposição a e estão delimitadas por pontuação. Uma das
interpretações possíveis é que se trata de uma oração reduzida de infinitivo,
com valor adjectivo explicativo, à semelhança de uma oração gerundiva (ex.:
Ficaram por ali um bocado no passeio, a conversarem, aborrecidas
[...] =
Ficaram por ali um bocado no passeio, conversando, aborrecidas [...];
nunca imaginei ser possível existirem cigarros friorentos [...] mas aí
estão eles, a tremerem. = nunca imaginei ser possível existirem
cigarros friorentos [...] mas aí estão eles, tremendo.). Nesse caso,
não há uma regra específica e verifica-se uma oscilação no uso do infinitivo
flexionado ou não flexionado.
No entanto, se estas construções não estivessem separadas por pontuação do resto
da frase, não tivessem valor adjectival e fizessem parte de uma locução verbal,
seria obrigatório o uso da forma não flexionada: Ficaram por ali um bocado no
passeio a conversar, aborrecidas [...] = Ficaram a conversar
por ali um bocado no passeio, aborrecidas [...]; nunca imaginei ser possível
existirem cigarros friorentos [...] nunca os tinha visto, claro, mas aí
estão eles a tremer. = nunca imaginei ser possível existirem
cigarros friorentos [...] nunca os tinha visto, claro, mas eles aí estão a
tremer. Neste caso, a forma flexionada do infinitivo pode ser
classificada como agramatical (ex.: *ficaram a conversarem, *estão a tremerem [o
asterisco indica agramaticalidade]), uma vez que as marcas de flexão em pessoa e
número já estão no verbo auxiliar ou semiauxiliar (no caso, estar e
ficar).