"O Sporting colou-se hoje a FC Porto e Benfica na liderança da Superliga portuguesa." Sendo que o correcto seria "O Sporting colou-se hoje ao FC Porto e ao Benfica”, a primeira hipótese poderá também estar correcta?
As regras que regem o emprego ou a omissão de artigos com nomes próprios nem
sempre são óbvias, deixando espaço para incertezas, como se depreende da
consulta de qualquer compêndio gramatical sobre este assunto (veja-se, por
exemplo, a Nova Gramática do Português Contemporâneo, Lisboa: Edições Sá
da Costa, 1998: pp. 214-242).
A frase que refere poderia estar correcta como eventual título de jornal (onde a
omissão de artigos e verbos é frequente: Sporting, FC Porto e Benfica na
liderança da Superliga portuguesa), sobretudo se o clube desportivo
mencionado no início da frase também não fosse precedido de artigo:
Sporting colou-se hoje a FC Porto e Benfica na liderança da
Superliga portuguesa. Tal como é apresentada, com Sporting precedido
de artigo, ao contrário de Porto e Benfica, a frase causa alguma
estranheza, sendo preferível indicar todos os artigos: O Sporting
colou-se hoje ao FC Porto e ao Benfica na liderança da Superliga
portuguesa.
Gostaria de saber se escrever ou dizer o termo deve de ser é correcto?
Eu penso que não é correcto, uma vez que neste caso deverá dizer-se ou escrever
deverá ser... Vejo muitas pessoas a usarem este tipo de linguagem no seu
dia-a-dia e penso que isto seja uma espécie de calão, mas já com grande
influência no vocabulário dos portugueses em geral.
Na questão que nos coloca, o verbo dever comporta-se como um verbo
modal, pois serve para exprimir necessidade ou obrigação, e como verbo
semiauxiliar, pois corresponde apenas a alguns dos critérios de auxiliaridade
geralmente atribuídos a verbos auxiliares puros como o ser ou o estar
(sobre estes critérios, poderá consultar a Gramática da Língua Portuguesa,
de Maria Helena Mira Mateus, Ana Maria Brito, Inês Duarte e Isabel Hub Faria,
pp. 303-305). Neste contexto, o verbo dever pode ser utilizado com ou sem
preposição antes do verbo principal (ex.: ele deve ser rico = ele deve
de ser rico). Há ainda autores (como Francisco Fernandes, no Dicionário
de Verbos e Regimes, p. 240, ou Evanildo Bechara, na sua Moderna
Gramática Portuguesa, p. 232) que consideram existir uma ligeira diferença
semântica entre as construções com e sem a preposição, exprimindo as primeiras
uma maior precisão (ex.: deve haver muita gente na praia) e as segundas
apenas uma probabilidade (ex.: deve de haver muita gente na praia). O uso
actual não leva em conta esta distinção, dando preferência à estrutura que
prescinde da preposição (dever + infinitivo).