Penso que há um erro no vosso conjugador quando consultamos o verbo ruir (presente do indicativo), quando confrontado com outro conjugador.
É muito frequente
não haver consenso quanto à defectividade de um verbo e o caso do verbo ruir é paradigmático, divergindo as fontes de referência.
Das obras
consultadas, o Dicionário Gramatical de Verbos Portugueses (Lisboa: Texto
Editores, 2007), o Dicionário
HouaissEletrônico ([CD_ROM] versão 3.0, Rio de Janeiro: Instituto Antônio
Houaiss / Objetiva, 2009), o Dicionário Aurélio
([CD_ROM] versão 6.0, Curitiba: Positivo Informática, 2009) e o Dicionário
Houaiss de verbos da Língua Portuguesa (Rio de Janeiro: Objetiva, 2003) consideram este verbo como defectivo, isto é, não
apresentam todas as formas do paradigma de conjugação a que o verbo pertence
(neste caso, as formas da primeira pessoa do presente do indicativo, todo o
presente do conjuntivo e as formas do imperativo que deste derivam).
O Dicionário de Verbos e Regimes, de Francisco FERNANDES (44.ª ed., São
Paulo: Ed. Globo, 2001) cita Ernesto Ribeiro, que considera este verbo
geralmente defectivo nas formas homófonas com formas do verbo roer, e as
outras formas pouco usadas.
A
Nova Gramática do Português Contemporâneo, de Celso CUNHA e Lindley CINTRA
(Lisboa: Edições Sá da Costa, 1998) refere (p. 420), por outro lado, que o verbo
ruir se conjuga pelo modelo regular de influir. É esta também a
opção do Dicionário de Verbos Portugueses, da Porto Editora (Porto: Porto
Editora, 1996).
Da informação acima
apresentada se pode concluir que uma resposta peremptória a este tipo de
questões é impossível e mesmo inadequada, estando a opção do Conjugador do Dicionário Priberam da Língua Portuguesa justificada e secundada por sólidas referências.
No entanto, qualquer verbo considerado defectivo pode ser hipoteticamente conjugado em todas as pessoas, pelo que as formas eu ruo ou que ele
rua são possíveis.
Tenho uma dúvida: a gramática da língua portuguesa não diz que um advérbio antes do verbo exige próclise? Não teria de ser "Amanhã se celebra"?
Esta questão diz respeito a uma diferença, sobretudo no registo coloquial,
entre as variedades europeia e brasileira do português, que, com a natural
evolução da língua, se foram distanciando relativamente a este fenómeno
linguístico. No que é considerado norma culta (portuguesa e brasileira), porém,
sobretudo na escrita, e em registo formal, ainda imperam regras da gramática
tradicional ou normativa, fixas e pouco permissivas.
No português de Portugal, se não houver algo que atraia o pronome pessoal átono,
ou clítico, para outra posição, a ênclise é a posição padrão, isto é, o pronome
surge habitualmente depois do verbo (ex.: Ele mostrou-me o quadro);
os casos de próclise, em que o pronome surge antes do verbo (ex.: Ele não
me mostrou o quadro), resultam de condições particulares, como as que
são referidas na resposta à dúvida
posição dos clíticos. Nessa resposta sistematizam-se os principais
contextos em que a próclise ocorre na variante europeia do português, sendo um
deles a presença de certos advérbios ou locuções adverbiais, como ainda
(ex.: Ainda ontem as vi), já (ex.: Já o conheço
bem), oxalá (ex.: Oxalá se mantenha assim), sempre
(ex.: Sempre o conheci atrevido), só (ex.: Só lhes
entreguei o documento hoje), talvez (ex.: Talvez te lembres
mais tarde) ou também (ex.: Se ainda estiverem à venda, também
os quero comprar). Note-se que a listagem não é exaustiva nem se aplica
a todos os advérbios e locuções adverbiais, pois como se infere a partir de
pesquisas em corpora com advérbios como hoje (ex.: Hoje
decide-se a passagem à final) ou com locuções adverbiais como mais tarde
(ex.: Mais tarde compra-se outra lente), a tendência na norma europeia é
para a colocação do pronome após o verbo. A ideia de que alguns advérbios (e não
a sua totalidade) atraem o clítico é aceite até por gramáticos mais
tradicionais, como Celso Cunha e Lindley Cintra, que referem, na página 313 da
sua Nova Gramática do Português Contemporâneo, que a língua portuguesa
tende para a próclise «[...] quando o verbo vem antecedido de certos advérbios (bem,
mal, ainda, já, sempre, só, talvez, etc.) ou expressões adverbiais, e não
há pausa que os separe».
No Brasil, a tendência generalizada, sobretudo no registo coloquial de língua, é
para a colocação do pronome antes do verbo (ex.: Ele me mostrou o
quadro). Daí a relativa estranheza que uma frase como Amanhã celebra-se o
Dia Mundial do Livro possa causar a falantes brasileiros que produzirão mais
naturalmente um enunciado como Amanhã se celebra o Dia Mundial do Livro.
O gramático brasileiro Evanildo Bechara afirma, na página 589 da sua Moderna
Gramática Portuguesa, que «Não se pospõe pronome átono a verbo modificado
diretamente por advérbio (isto é, sem pausa entre os dois, indicada ou não por
vírgula) ou precedido de palavra de sentido negativo.». Contrariamente a Celso
Cunha e Lindley Cintra, Bechara propõe um critério para o uso de próclise que
parece englobar a totalidade dos advérbios. Resta saber se se trata de um
critério formulado a partir do tendência brasileira para a próclise ou de uma
extensão da regra formulada pela gramática tradicional. Estatisticamente, porém,
é inequívoca a diferença de uso entre as duas normas do português.