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Dúvidas linguísticas
meia voz / meia-voz
Meia voz
ou
meia-voz
? Nas buscas que fiz encontrei
meia voz
usado comummente em Portugal e
meia-voz
usado no Brasil.
O registo lexicográfico não é unânime no registo de palavras hifenizadas (ex.:
meia-voz
)
versus
locuções (ex.:
meia voz
), como se poderá verificar pela consulta de algumas obras de referência para o português. Assim, podemos observar que é registada a locução
a meia voz
, por exemplo, no
Vocabulário da Língua Portuguesa
, de Rebelo GONÇALVES (Coimbra: Coimbra Editora, 1966), no
Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea
da Academia das Ciências de Lisboa (Lisboa: Editorial Verbo, 2001), no
Novo Dicionário Aurélio
(Curitiba: Editora Positivo, 2004); esta é também a opção do
Dicionário Priberam da Língua Portuguesa
, na entrada
voz
. Por outro lado, a palavra hifenizada
meia-voz
surge registada no
Dicionário Houaiss
(Lisboa: Círculo de Leitores, 2002).
Esta falta de consenso nas obras lexicográficas é consequência da dificuldade de uso coerente do hífen em português (veja-se a este respeito a
Base XV
do Acordo Ortográfico de 1990 ou o texto vago e pouco esclarecedor da Base XXVIII do
Acordo Ortográfico de 1945
para a ortografia portuguesa). Um claro exemplo da dificuldade de registo lexicográfico é o registo, pelo
Grande Dicionário da Língua Portuguesa
(Porto: Porto Editora, 2004), da locução
a meia voz
no artigo
voz
a par do registo da locução
a meia-voz
no artigo
meia-voz
.
convidámos-vos / convidamos-vos
Na frase:
Nós convidámo-vos
, o pronome é enclítico, o que obriga à omissão do
-s
final na desinência
-mos
ao contrário do que o V. corrector
on-line
propõe:
Nós convidamos-vos
, o que, certamente, é erro.
Nós convidamos-vos, Nós convidámos-vos, Nós convidamo-vos, Nós convidámo-vos
: afinal o que é que está correcto?
A forma
nós convidámo
s
-vos
encontra-se correcta, tal como é verificado pelo
FLiP
on-line
.
A forma *
nós convidámo-vos
corresponde a um erro muito frequente dos utilizadores da língua, por analogia com o uso enclítico do pronome
nos
(como em
nós convidám
o
-nos
); apesar de aparentemente semelhantes, estes dois casos correspondem a contextos diferentes que determinaram a grafia actual. Em casos como
nós convidámo-nos
, estamos perante a terminação da primeira pessoa do plural
-mos
, seguida do clítico
nos
; estas duas terminações são quase homófonas, pelo que a língua encontrou uma forma de as dissimilar ou diferenciar, num fenómeno designado “dissimilação das sílabas parafónicas” por Martins de Aguiar, citado por CUNHA e CINTRA na
Nova Gramática do Português Contemporâneo
(Ed. João Sá da Costa, 1998, p. 318). No caso de
nós convidámos-vos
não há necessidade de dissimilação, pelo que a grafia deverá incluir o
-s
final da desinência da primeira pessoa do plural.
Relativamente ao uso dos clíticos e às alterações ortográficas que estes implicam quando se seguem à forma verbal (ênclise), pode dizer-se que não há qualquer alteração ortográfica com os pronomes pessoais átonos que são complemento indirecto (
me, te, lhe, vos, lhes
), excepto com o pronome
nos
, que provoca a já referida redução da forma verbal da desinência da primeira pessoa do plural (de *
-mos-nos
para
-mo-nos
). A este respeito, veja-se o anexo relativo aos verbos no
Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa
(Círculo de Leitores, 2002) ou
12 000 verbes portugais et brésiliens - Formes et emplois
(“Collection Bescherelle”, Paris, Hatier, 1993), duas das poucas obras de referência que explicitamente referem este fenómeno.
Em relação aos clíticos de complemento directo (
o, a, os as
), quando há ênclise apresentam alteração para
-lo, la, -los, -las
se se seguirem a forma verbal terminada em
-r
,
-s
ou
-z
ou ao advérbio
eis
, sendo que há redução da forma verbal (ex.:
convidá-lo, convidamo-las, di-lo, ei-la
), por vezes com necessidade de acentuação gráfica (ver também outra dúvida sobre este assunto em
escreve-lo e escrevê-lo
). Se a forma verbal terminar em nasal (ex.:
convidam, convidaram
), o pronome enclítico altera-se para
-no, -na, -nos, -nas
(ex.:
convidam-no, convidaram-nas
).
As construções *
nós convidamo-vos
e *
nós convidámo-vos
estão então incorrectas, pois não há motivo para retirar o
-s
à terminação da primeira pessoa do plural quando seguida do clítico
vos
. No português europeu, as construções
nós convidamos-vos
e
nós convidámos-vos
estão ambas correctas, distinguindo-se apenas pelo tempo verbal. A primeira corresponde ao presente do indicativo (ex.:
Hoje convidamos-vos para uma visita às grutas
) e a segunda ao pretérito perfeito do indicativo (ex.:
Ontem convidámos-vos para um passeio de barco
).
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graúlho
graúlho
(
gra·ú·lho
gra·ú·lho
)
nome masculino
Semente da uva.
=
BAGULHO, GRAINHA
Origem etimológica:
grão + -ulho
.