Devo dizer em Porto Moniz ou no Porto Moniz (Porto Moniz é um município)?
Como poderá
verificar na resposta topónimos com e sem artigos, esta questão não pode ter uma resposta
peremptória, pois as poucas e vagas regras enunciadas por alguns prontuários têm
muitos contra-exemplos.
No caso de Porto Moniz, este topónimo madeirense
enquadra-se na regra que defende que não se usa geralmente o
artigo com os nomes das cidades, localidades e ilhas, regra que tem, contudo, muitas excepções. Nesse caso, seria mais
indicado em Porto Moniz.
Por
outro lado, não pode ser ignorado o facto de os falantes madeirenses geralmente
colocarem artigo neste caso (no Porto Moniz, mas também no Porto da
Cruz ou no Porto Santo, outros dois casos em que o mesmo problema se
coloca). Do ponto de vista lógico, e uma vez que a regras das gramáticas são vagas, este pode ser o melhor critério para decidir utilizar o artigo com este topónimo.
Pelos motivos acima apontados, pode afirmar-se que nenhuma das duas opções está
incorrecta, uma (em Porto Moniz) seguindo as indicações vagas e pouco
fundamentadas de algumas gramáticas, outra (no Porto Moniz) podendo ser
justificada pelo facto de os habitantes da própria localidade utilizarem o artigo antes do topónimo e também pelo facto de a palavra Porto ter origem num nome comum a que
se junta uma outra denominação (no caso, o antropónimo Moniz que, segundo
José Pedro Machado, no Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa,
corresponde a “um dos mais antigos povoadores da ilha”).
Das seguintes, que forma está correcta?
a) Noventa por cento dos professores manifestaram-se.
b) Noventa por cento dos professores manifestou-se.
A questão que nos coloca não tem uma resposta peremptória, originando muitas vezes dúvidas quer nos falantes quer nos gramáticos que analisam este tipo de estruturas.
João Andrade Peres e Telmo Móia, na sua obra Áreas Críticas da Língua Portuguesa (Lisboa, Editorial Caminho, 1995, pp. 484-488), dedicam-se, no capítulo que diz respeito aos problemas de concordância com sujeitos de estrutura de quantificação complexa, à análise destes casos com a expressão n por cento seguida de um nome plural. Segundo eles, nestes casos em que se trata de um numeral plural (ex.: noventa) e um nome encaixado também plural (professores), a concordância deverá ser feita no plural (ex.: noventa por cento dos professores manifestaram-se), apesar de referirem que há a tendência de alguns falantes para a concordância no singular (ex.: noventa por cento dos professores manifestou-se). Nos casos em que a expressão numeral se encontra no singular, a concordância poderá ser realizada no singular (ex.: um por cento dos professores manifestou-se) ou no plural, com o núcleo nominal encaixado (ex.: um por cento dos professores manifestaram-se). Há, no entanto, casos, como indicam os mesmos autores, em que a alternância desta concordância não é de todo possível, sendo apenas correcta a concordância com o núcleo nominal que segue a expressão percentual (ex.: dez por cento do parque ardeu, mas não *dez por cento do parque arderam).
Face a esta problemática, o mais aconselhável será talvez realizar a concordância com o nome que se segue à expressão "por cento", visto que deste modo nunca incorrerá em erro (ex.: noventa por cento dos professores manifestaram-se, um por cento dos professores manifestaram-se, dez por cento da turma reprovou no exame, vinte por cento da floresta ardeu). De acordo com Evanildo Bechara, na sua Moderna Gramática Portuguesa (Rio de Janeiro: Editora Lucerna, 2002, p. 566), esta será também a tendência mais comum dos falantes de língua portuguesa.