Posso utilizar a expressão e/ou em um texto formal? Se não, como escrevê-la? Posso escrever e ou ou e, ou?
As palavras e
e ou são conjunções coordenativas, isto é, relacionam termos que
podem ter a mesma função na frase (ex.: vou comprar umas calças azuis e
brancas; vou comprar umas calças azuis ou brancas), sendo que
a conjunção e indica adição (ex.: calças azuis e brancas)
e a conjunção ou indica alternativa (ex.: calças azuis ou
brancas).
A expressão e/ou é utilizada para exprimir de maneira económica e clara
três hipóteses, duas delas contidas numa alternativa (uma coisa ou
outra) e a outra contida numa adição (uma coisa e outra). Por
exemplo, numa frase como todos os utilizadores têm o direito de
rectificação e/ou eliminação dos seus dados pessoais, o texto
destacado indica que é possível 1) a rectificação dos seus dados pessoais, 2) a
eliminação dos seus dados pessoais, 3) a rectificação dos seus dados pessoais e
a eliminação dos seus dados pessoais. Os pontos 1) e 2) estão contidos na
alternativa com ou e o ponto 3) está contido na adição com e.
Não há qualquer motivo para a não utilização desta expressão num texto formal. A
barra indica opcionalidade entre o e e o ou:
rectificação e/ou eliminação dos seus dados pessoais = rectificação e eliminação dos seus dados pessoais / rectificaçãooueliminação dos seus dados pessoais.
De facto, é possível
identificar neste vocábulo as palavras distintas que lhe deram origem – os
substantivos ponta e pé – sem que nenhuma delas tenha sido
afectada na sua integridade fonológica (em alguns casos pode haver uma adequação
ortográfica para manter a integridade fonética das palavras simples, como em
girassol, composto de gira + s + sol. Se não houvesse
essa adequação, a palavra seria escrita com um s intervocálico (girasol)
a que corresponderia o som /z/ e as duas palavras simples perderiam a sua
integridade fonética e tratar-se-ia de um composto aglutinado). Daí a
denominação de composto por justaposição, uma vez que as palavras apenas se
encontram colocadas lado a lado, com ou sem hífen (ex.: guarda-chuva, passatempo,
pontapé).
O mesmo não se passa com os compostos por aglutinação, como
pernalta (de perna + alta), por exemplo, cujos elementos se
unem de tal modo que um deles sofre alterações na sua estrutura fonética. No
caso, o acento tónico de perna subordina-se ao de alta, com
consequências, no português europeu, na qualidade vocálica do e, cuja
pronúncia /é/ deixa de ser possível para passar à vogal central fechada
(idêntica à pronúncia do e em se). Note-se ainda que as
palavras compostas por aglutinação nunca se escrevem com hífen.
Sobre este
assunto, poderá ainda consultar o cap. 24 da Gramática da Língua Portuguesa,
de Maria Helena Mira MATEUS, Ana Maria BRITO, Inês DUARTE, Isabel Hub FARIA et
al. (5.ª ed., Editorial Caminho, Lisboa, 2003), especialmente as pp. 979-980.