Uma frase poderá conter parênteses no fim da mesma?
Exemplo: Deve haver falta de correctores ortográficos no mercado (ou será um novo mês? Ficará talvez entre Fevereiro e Março).
Os parênteses são sinais gráficos - podem ser curvos "( )", rectos "[ ]" ou angulares "<>" - utilizados sobretudo para delimitar palavras, locuções ou frases intercaladas ou suprimidas, sem que a estrutura sintáctica seja alterada. Por este motivo, ao utilizar uma sequência dentro de parênteses, a pontuação da frase deverá ser a mesma que existiria sem o uso desses sinais gráficos.
O exemplo que nos fornece não é muito claro, mas quando o que se pretende intercalar corresponde a uma ou mais frases completas, estas poderão estar integradas na frase que não está entre parênteses (mantendo a pontuação de uma frase dependente e sem uso de maiúsculas iniciais): Deve haver falta de correctores ortográficos no mercado (ou será um novo mês?).
Se, no entanto, houver mais do que uma frase dentro dos parênteses, deverão ser respeitadas dentro dos parênteses as regras gerais de pontuação, com uso de maiúsculas a seguir a um ponto final ou, no caso do exemplo, a um ponto de interrogação: Deve haver falta de correctores ortográficos no mercado (ou será um novo mês? Ficará talvez entre Fevereiro e Março?).
A informação poderá, por outro lado, surgir isolada fora dessa frase, com a respectiva pontuação e uso de maiúsculas; este parece ser o procedimento preferencial no caso de frases como a do exemplo referido, em que não parece
haver nexo muito forte entre a frase imediatamente anterior e a(s) frase(s) entre parênteses: Deve haver falta de correctores ortográficos no mercado. (Ou será um novo mês? Ficará talvez entre Fevereiro e Março?)
Na frase "Quem encontrou uns óculos no banheiro, favor entregar ao setor de Meio Ambiente", a dúvida é se posso colocar uns óculos, mesmo possuindo um único par de óculos perdidos.
A concordância uns óculos está correcta e *um
óculos é um erro a evitar (o asterisco indica agramaticalidade).
O exemplo apontado (óculos)
é um caso de pluralia tantum (‘apenas plural’), designação latina dada a
palavras ou expressões que correspondem a um plural gramatical, mas que designam
um objecto ou referente singular, normalmente formado por duas partes mais ou
menos simétricas (outros exemplos serão binóculos ou calças). Com
estas palavras tem de haver sempre concordância com a terceira pessoa do
plural (ex.: os binóculos partidos estão
em cima da mesa; as calças rasgadas foram
cosidas), pois gramaticalmente são substantivos no plural,
mesmo se designam uma realidade única; é também frequente nestes casos o uso do
numeral colectivo par de, o que permite fazer concordâncias no singular
(ex.: o par de binóculos partidos/partido está
em cima da mesa; o par de calças rasgadas/rasgado foi
cosido).
A hesitação na utilização da palavra óculos parece resultar de dois
factores. O primeiro factor relaciona-se com a influência de um fenómeno
relativamente comum no português do Brasil, que consiste na preferência do
singular para designar um referente composto por duas peças (ex.: Comprei uma
calça nova; Está usando sandália importada), sem que a interpretação
implique apenas um elemento do par (repare-se no entanto que as formas *uma
calças / *umas calça e *uma sandálias / *umas sandália
são incorrectas, como indica o asterisco). O segundo factor, como refere Cláudio
Moreno em O Prazer das Palavras (Porto Alegre, RBS Publicações, 2004, p.
122), relaciona-se com o facto de óculos não ser entendido como plural de
óculo e ser confundido com um substantivo de dois números (isto é, que
tem a mesma forma para o singular e para o plural) terminado em -s, como
lápis (ex.: Comprei um lápis novo; Está usando lápis importados).
Estes dois factores conjugam-se na construção de estruturas erradas como *meu
óculos escuro.