Como devo falar ou escrever: "o Departamento a que pertence o funcionário" ou "o Departamento ao qual pertence o funcionário".
Nenhuma das expressões que refere está incorrecta, uma vez que, em orações subordinadas adjectivas relativas, o pronome relativo que pode, de uma maneira geral, ser substituído pelo seu equivalente o qual, que deverá flexionar em concordância com o género e número do antecedente (ex.: os departamentos aos quais pertence o funcionário). No caso em questão, o pronome relativo tem uma função de objecto indirecto do verbo pertencer, que selecciona complementos iniciados pela preposição a, daí que os pronomes que e o qual estejam antecedidos nestas expressões por essa preposição (a que e ao qual).
É de notar que a utilização da locução pronominal o qual e das suas flexões não deve ser feita quando se trata de uma oração relativa adjectiva restritiva que não é iniciada por preposição, isto é, quando a oração desempenha a função de um adjectivo que restringe o significado do antecedente (ex.: o departamento [que está em análise = analisado] vai ser reestruturado; *o departamento o qual está em análise vai ser reestruturado [o asterisco indica agramaticalidade]).
Pretendo saber como se lê a palavra ridículo. Há
quem diga que se lê da forma que se escreve e há quem diga que se lê redículo.
Assim como as palavras ministro e vizinho, onde também tenho a mesma dúvida.
A dissimilação, fenómeno fonético que torna diferentes dois ou mais segmentos fonéticos iguais
ou semelhantes, é muito frequente em português europeu.
O caso da pronúncia do
primeiro i não como o habitual [i] mas como [i] (idêntico à
pronúncia de se ou de) na palavra ridículo
é apenas um exemplo de dissimilação entre dois sons [i].
O mesmo fenómeno pode
acontecer nos casos de civil, esquisito, feminino,
Filipe, imbecilidade, medicina, militar,
milímetro, ministro, príncipe, sacrifício,
santificado, Virgílio, visita, vizinho
(o segmento destacado é o que pode sofrer dissimilação), onde se pode verificar
que a modificação nunca ocorre na vogal da sílaba tónica ou com acento
secundário, mas nas vogais de sílabas átonas que sofrem enfraquecimento.
A este respeito, convém referir que alguns dicionários de língua portuguesa,
como o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia das
Ciências de Lisboa (Verbo, 2001) ou o Grande Dicionário Língua Portuguesa
(Porto Editora, 2004), apresentam transcrição fonética das palavras. Podemos
verificar que nestas obras de referência, a transcrição não é uniforme. No
dicionário da Academia das Ciências, estas palavras são transcritas de forma
quase sistemática sem dissimilação, mas a palavra príncipe é transcrita
como prínc[i]pe. No dicionário da Porto editora, algumas
destas palavras são transcritas com e sem dissimilação, por esta ordem, como em
feminino, medicina, militar, ministro ou vizinho, mas a palavra
esquisito é transcrita com a forma sem dissimilação em primeiro lugar,
enquanto as palavras civil, príncipe, sacrifício e visita
são transcritas apenas sem dissimilação.
Em
conclusão, nestes contextos, é possível encontrar no português europeu as duas
pronúncias, com e sem dissimilação, sendo que em alguns casos parece mais rara e
noutros não. A pronúncia destas e de outras palavras não obedece a critérios de
correcção, pois não se trata de uma pronúncia correcta ou incorrecta, mas de
variações de pronúncia relacionadas com o dialecto ou o sociolecto do falante.
Assim, nos exemplos acima apresentados é igualmente correcta a pronúncia dos
segmentos assinalados como [i] ou [i].